segunda-feira, 12 de agosto de 2013

FIACOBA OU FIA(S)COBA

Caras e Caros,

Depois de visitar o mais recente evento organizado em Oliveira do Bairro (OB), não posso ficar indiferente ao desalento que foi ver um paupérrimo acontecimento sem conteúdo, sem critério e objectivos definidos e sobretudo sem a mínima possibilidade de acrescentar o que quer que seja ao Concelho de OB e por inerência às suas gentes. De facto, não tenho grandes dúvidas, continuamos a fazer por fazer.


Peço-vos, que atentem à denominação dada pela entidade organizadora, ao evento, Feira Industrial, Agrícola e Comercial da Bairrada, ou seja, a nossa bem conhecida FIACOBA. Em segundo lugar, peço-vos que reflictam por alguns instantes sobre o significado de cada uma das palavras que a referida denominação contém. Bem, parecem-me palavras de fácil compreensão, ainda assim arrisco a colocar aqui uma breve explicação sobre o significado de cada uma delas. 

Consideremos então, que Feira, refere-se a “grande mercado que se realiza em determinadas épocas, onde por norma se desloca um grande aglomerado de pessoas”, que Industrial, refere-se a “algo que se relaciona com a indústria”, que Agrícola, “o que se relaciona com a agricultura”, que Comercial, é “algo relativo ao comércio” e que Bairrada, bem, nem necessito de escrever o que todos entendemos por Bairrada. 

Claro que estes podem ser discutíveis, mas ainda assim assumamos que estão correctos e são os adequados.

Sobre o facto de se tratar de uma Feira, não me choca que o evento assim seja designado, pois este decorreu na data prevista, com a adesão de um número, diria, “normal” de cidadãos. Ainda assim arrisco-me a dizer que com o passar dos anos, estes são cada vez menos. Sobre o facto de se lhe chamar Industrial, penso nem ser necessário tecer grandes comentários, pois foi deprimente e desolador, ver a total ausência das grandes indústrias de referência do Concelho e da região. 

Sobre o facto de se lhe chamar Agrícola, foi mais uma vez consternador. Faço um enorme esforço para acreditar que para muitos, seja suficiente encontrarem-se expostos uns simples tractores e que se realizem workshops gastronómicos à volta de um fruto cultivado na região. Sobre o facto de se lhe chamar Comercial, à imagem aliás do sector da indústria, foi evidente o total desinteresse e indiferença do comércio do Concelho e da região. Bem, sempre lá podíamos encontrar uns sapatos low cost ou até umas saborosas chouriças, que como todos sabem, são fiéis e importantes representantes do comércio de OB e dos concelhos limítrofes.

Entretanto, deixem-me salvaguardar que não quero com esta minha opinião, menosprezar ou desvalorizar, o empenho, o esforço e a dedicação de todos, pessoas, empresas, instituições ou associações, que de modo honesto e empenhado, aceitaram expor e divulgar os seus produtos ou serviços.

Finalmente, sobre a nossa Bairrada. Pois é, a nossa Bairrada. Sim, a nossa, a de todos. 

Bem, esta esteve superiormente representada pela, diria, “majestosa” Feira do Cavalo. 

Sim, esta sim, representa, descreve ou até quem sabe, imortaliza, a história e a identidade secular, assim como as gentes da região onde nascemos, onde crescemos e onde, quem sabe, pensamos eventualmente, viver.

Pois é meus caros, efectivamente, considero que estivemos, à imagem dos últimos anos e com tendência para piorar, perante uma verdadeira FIA(S)COBA e não perante uma FIACOBA. Sim, um verdadeiro FIASCO. Sim, uma verdadeira DESILUSÃO. E, por favor, não lhe chamem Feira Industrial, Agrícola e Comercial da Bairrada.

Defendo, inequivocamente, que eventos como a FIACOBA, ou aliás, FIA(S)COBA, devem ser repensados, devem estar baseados em pressupostos manifestamente válidos, devem conter objectivos e metas claras e sobretudo devem dotar-se de processos e sistemas de avaliação e monitorização dos resultados alcançados.

Não posso aceitar de ânimo leve, que se assista ao seu declínio e degradação, sem que nada se faça para alterar os resultados obtidos.

Não posso aceitar de ânimo leve, que se realizem eventos, por algum capricho pessoal ou por qualquer outra segunda intenção, que não sejam os interesses superiores do Concelho e da sua população.

Não posso aceitar de ânimo leve, que se continuem a realizar eventos festivos de qualidade duvidosa, existindo ainda zonas do nosso Concelho sem saneamento básico ou serviço público de abastecimento de água.

Não posso aceitar de ânimo leve, que gente inteligente, penso eu, gaste o dinheiro dos nossos impostos, por exemplo o IMI, com concertos musicais ou provas de salto de obstáculos para cavalos.

Ora, como facilmente compreenderão, OB e, consequentemente, a Bairrada, não combaterá, entre outros problemas, o desemprego, a degradação do tecido empresarial, a insegurança, o declínio do comércio tradicional, a ausência de empreendedorismo, a desqualificação e exclusão social, com eventos em que outros interesses, mais ou menos transparentes, se levantam.

Não tenho pois, quaisquer dúvidas de que a FIACOBA, corrijo, a FIA(S)COBA é o espelho do que tem acontecido nos últimos anos em OB, ou seja, investimentos e projectos, totalmente descontextualizados da sua actual e futura realidade, que não se encontram minimamente alinhados com uma visão inovadora e moderna, que não percebem e não ouvem as pessoas e que não vão ao encontro e não respondem às suas verdadeiras necessidades e que não contribuem clara e inequivocamente para o crescimento e desenvolvimento sustentado e equilibrado de OB.

É pois, imprescindível e sobretudo é necessário ter CORAGEM para sair de dentro de uma casca fina, que esconde seres que se julgam omnipotentes, omnipresentes e omniscientes, e alterar modos de actuação, repensar linhas de orientação e pensar de modo imparcial, questionando todas as opções que forem passíveis de serem questionadas, para que se possa realmente contribuir para o aumento da qualidade de vida e do bem-estar de todos.

Para que outras FIA(S)COBA’s não se voltem a repetir.

Miguel Tomás, no 'Jornal da Bairrada' de 8 de Agosto de 2013