domingo, 11 de agosto de 2013

A UNHA GRANDE DO DEDO MINDINHO

Tatuagens e piercings, espalhados por todas as regiões do corpo - das públicas às mais recônditas -, tornaram-se tão vulgares na geração dos meus filhos que já ninguém vira a cabeça quando vê alguém com um pescoço tatuado ou abre a boca de espanto quanto tropeça num piercing.


Nem sempre foi assim. Na minha geração, os únicos piercings socialmente aceites eram os brincos, de uso exclusivo feminino, e mesmo assim a aprovação não era unânime, pois as mais radicais intérpretes do maravilhoso movimento de libertação da mulher eram contra o hábito de furar as orelhas às bebés.

Talvez por Auschwitz ainda estar fresco, as tatuagens circunscreviam-se a marinheiros ou combatentes do Ultramar, a quem desculpávamos transportarem toda a vida no braço a inscrição "Guiné 69, Amor de Mãe, Batalhão Caçadores 2893, Nova Lamego".

Os adornos masculinos da geração anterior à minha eram postiços, não definitivos, o que era adequado a tempos em que nos documentos de identificação constava um campo para sinais particulares.

Era frequente os homens da geração do meu pai usarem anéis e deixarem crescer a unha grande do dedo mindinho. A primeira explicação que arranjei para esta mania, que sempre me intrigou, é que essa unha era uma alternativa à ponta da tampa das esferográficas Bic, quando precisávamos de um instrumento de remoção da cera que se acumula no interior das orelhas.

Mais tarde, soube que, apesar de engraçada, esta minha explicação não era a certa. A unha grande crescida do dedo mindinho significava uma ostentação pública de que o seu portador não trabalhava na terra. Na verdade, é impossível a um camponês manter uma unha de dois centímetros!

A Revolução Industrial chegou cá atrasada. Portugal foi até tarde demais um país predominantemente agrícola, onde na segunda metade do século XX ainda vigoravam métodos medievais de trabalhar a terra. 

Ser agricultor era sinónimo de miséria, pelo que logo que espreitava uma oportunidade, ele escapava da servidão da gleba e fugia para a cidade, onde podia deixar crescer a unha grande do mindinho. Hoje, há 352 mil agricultores. Em 86, havia 887 mil - mais meio milhão!

Com Bruxelas (por causa da PAC e dos agricultores franceses) e Lisboa (por causa da estúpida ideia de que iríamos ser um país de serviços) apostadas em desmantelar-nos a agricultura, os nossos campos foram abandonados, passamos a importar mais de metade do que comemos, somos um dos países europeus com menos área agrícola cultivada (apenas 10%) e o sétimo mais terciarizado da UE.

O resultado desta estratégia está à vista. Metade das maçãs que comemos vem de fora. As magníficas cerejas de Resende e do Fundão só satisfazem 30% das nossas necessidades. Há nos campos uma riqueza que temos de voltar a explorar, se queremos sair do buraco em que nos meteram. O movimento de regresso à terra tem de ser apoiado e aplaudido. Ser agricultor, com as unhas cortadas rentes (como eu gosto), tem de passar a ser "cool".

Jorge Fiel, aqui