quarta-feira, 19 de junho de 2013

QUEM ESTÁ AFINAL A BRINCAR COM OS ESTUDANTES?

Não me vou pronunciar sobre as reivindicações dos professores, contra os quais estive muitas vezes (lamentando sempre o baixo nível do ensino primário e secundário em Portugal, apesar de tantos meios a eles dedicados)

Lembro só que talvez a actual maioria lhes tivesse dado demasiada corda quando o anterior Governo socialista tentou pôr um pouco de ordem no sector.


Vou só falar do direito à greve, que esse sim, defendo como parte essencial da democracia. E da evidência de que uma greve só é possível e eficaz, se afectar alguma parte da sociedade.

Vou também lembrar que a comissão arbitral, em que o Governo pôs tantas esperanças para decretar serviços mínimos, é suposto ser aceite pelas duas partes que a ela se submetem voluntariamente. E que essa comissão arbitral sugeriu mudar os exames de dia 17 para 20, aceitando os sindicatos lá dentro (segundo as notícias veiculadas), e publicamente (segundo vi) não repetir nesse dia a greve.

Quando o Governo recusou, era suposto estar em condições de assegurar que os exames decorressem normalmente. Afinal, não estava. 70% de alunos examinados, mesmo com toda a mobilização de professores que se fez, parece-me pouco. E 90% em greve, mesmo que haja algum exagero no número, parece-me demasiado.

A uma parte substancial dos examinandos, as provas deverão ser anuladas, por ilegalidades cometidas por instigação de um Governo que já se viu ligar pouco à Lei (na comissão arbitral, nos orçamentos inconstitucionais, no ordenar aos serviços que não a cumpram no pagamento das férias dos funcionários públicos, etc.).

Só percebo que o Governo se dedicasse a brincar desta maneira com os estudantes em exames, por esperar ter finalmente uma forma de virar gente a seu favor, contra os professores (o que nem seria difícil, se o fizesse mais limpamente). Ainda assim, conseguiu uns quantos comentadores que acham serem os professores que não têm direito a greves que afectem alunos (!). 

Mas a maioria dos pais e dos estudantes, segundo tenho visto, perceberam quem está realmente a usar os alunos numa guerra com que eles nada têm que ver – numa das alturas mais dramáticas da sua vida de estudantes. Os professores podem não ter razão em nenhuma das suas reivindicações, mas só o Governo anunciar que vai mudar a Lei da Greve, amuado com as decisões da comissão arbitral, mostra quem esteve mal neste assunto.

Retirada daqui