Nem queria acreditar!
O professor Cavaco Silva, num discurso oficial ,
enquanto Chefe do Estado, no Dia de Portugal e no pior ano que vivemos de crise,
achou ser boa altura tentar reabilitar o seu passado como primeiro-ministro
(José Sócrates tem, afinal, um mestre!) e resume assim 25 anos de política
agrícola (dos quais os primeiros 10 comandou): "apesar de o número de
agricultores ser então muito superior ao atual - cerca de 600 mil, contra cerca
de 300 mil nos dias de hoje - a produtividade da terra cresceu 22% e a
produtividade do trabalho agrícola aumentou 180%."
Entre 1989 e 2009, o número de explorações agrícolas caiu 50% e a superfície
agrícola utilizada diminuiu 9%. O valor acrescentado bruto criado pelo sector
primário caiu de 10% para 2% - o peso do sector primário na riqueza criada no
País dividiu-se assim por cinco.
A taxa de cobertura das importações pelas exportações de bens alimentares
recuou de 43% em 1990 para 32% em 2010. Em 2007, mais de 50% do consumo
alimentar em Portugal era importado, contra 35% em 1986.
Portugal era praticamente autossuficiente em 1986 em produtos como as
hortaliças, as frutas, as carnes e o leite. Agora, importa grande parte do que
come.
Portugal caiu de sétimo para 12.º lugar entre os países da União Europeia na
representatividade económica do sector da agricultura, silvicultura e
pescas.
Podia continuar com páginas e páginas de números, todos no mesmo sentido e
sempre citando o elogiado estudo coordenado pelo professor Augusto Mateus para a
Fundação Francisco Manuel dos Santos, "25 Anos de Portugal Europeu", que o DN
publicou há dias.
Augusto Mateus não podia ser mais assassino para as intenções e para o texto
do discurso presidencial de ontem: comparada com a Europa, lê-se no estudo, "a
agricultura regista o maior gap face à média comunitária e foi o único
sector cuja produtividade divergiu".
Um desastre completo para os muitos mil milhões investidos pelos fundos
europeus e pelo Estado português na agricultura. Para o Presidente da República,
porém, esta é uma ideia feita, um preconceito. Nós é que não entendemos!
Qual é o juiz, face a este exemplo presidencial de pantominice estatística,
capaz de condenar Miguel Sousa Tavares por ter chamado palhaço a Cavaco Silva? E
aquele tipo de falácia não afeta profundamente a dignidade da função
presidencial? Não deveria a PGR processar o cidadão Cavaco Silva por ofender a
Presidência da República?
Pedro Tadeu, aqui