quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

NEM A COCA-COLA AGUENTA

Coca-cola (copos)
A mais emblemática multinacional do mundo também emigra de Portugal.

A notícia surgiu seca, dura e ao fim-de-semana. 

Dizia simplesmente que a Coca-Cola vai reestruturar-se na Península Ibérica, e portanto vai fechar várias unidades, uma das quais poderá ser a fábrica de Azeitão, nos arredores de Lisboa.


O plano, que afecta também um conjunto de regiões de Espanha, prevê uma concentração da produção num ponto central, a partir do qual se procederá à distribuição. Sem surpresas, a Penínsulaé tratada como um mercado de consumidores e a unidade tem também de alimentar parte de França..

Sendo a Coca-Cola uma multinacional (a multinacional por excelência), não seria de esperar que houvesse qualquer tipo de contemplações especiais por Portugal, mesmo que, curiosamente, tenha sido o último país a deixar entrar o líquido castanho no seu circuito comercial, só depois da revolução dos cravos. 

Antes, o regime rejeitou sempre a hipótese, eventualmente em nome do princípio de que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses (a situação não abrangia as colónias, exactamente porque ali se entendia que quando muito concorreria com a cerveja, ligada aos mesmos interesses económicos).

Sendo contraditoriamente uma conquista de Abril, em 2013 a Coca-Cola marcha e manda para fora a sua unidade de produção no pior dos momentos para a nossa economia, o que deixa aos consumidores uma margem muito grande para tomarem as atitudes que entendam relativamente à bebida que alguns diziam ser a água suja do capitalismo e que Pessoa definiu com um brilhante "primeiro estranha-se e depois entranha-se", atribuído erradamente a Salazar.

Este caso não é isolado na Ibéria. Veja-se, por exemplo, o que se está a discutir ao nível do jogo. Espanha está a procurar desenvolver e implantar uma verdadeira Las Vegas europeia, a edificar algures entre Madrid e Barcelona, e que teria o efeito que têm os eucaliptos em terra fértil, secando tudo ao seu redor.

Ora os casinos em Portugal sempre foram uma imagem de marca associada primeiro ao glamour e ultimamente às iniciativas culturais, enquanto as suas receitas foram um grande sustentáculo da promoção turística, pagando impostos como mais nenhuma outra actividade.

Para contrariar as perdas nos jogos de mesa e na roleta, os casinos promoveram as slot machines, mas entretanto os jogos online atacaram fortemente o negócio, que tentou resistir procurando uma clientela mais popular e como tal mais frágil económica e socialmente e envolvendo ainda comunidades emigrantes em que o jogo é uma verdadeira tradição obsessiva, como, por exemplo, o comprova a Ásia, com Macau, onde hoje a receita é largamente superior à de Las Vegas. Adivinha-se o que vem a seguir.

A razão que está por detrás de medidas de desinvestimento como as citadas prende-se directamente com o ambiente económico recessivo que vivemos externa e internamente e cujo pleno supostamente já devia estar a passar, se tivéssemos levado à letra o discurso do primeiro-ministro na festa do PSD no Algarve a 14 de Agosto.

A verdade, porém, é que a realidade nada tem a ver com as promessas que se fazem no Verão, seja na economia seja nos amores frívolos que a época propicia. É a vida, como diria um ex-governante nacional…

Eduardo Oliveira Silva, aqui