
É muito raro eu mentir.
Mas aviso desde já que isso nada tem a
ver com preconceitos éticos ou morais, até porque sei perfeitamente que há
mentiras muito convenientes e até piedosas.
Não. Apenas evito mentir por saber
que nessa matéria sou um zero à esquerda.
Esta minha incompetência inata nas artes de fingir e mentir não me deixa
orgulhoso, porque me cortou logo à partida qualquer hipótese de fazer carreira
como ator ou político. Desde Maquiavel que sabemos que apenas um mentiroso
ousado e muito capaz pode aspirar a singrar na política e garantir o poder.
Mas não fiquem a pensar que eu sou um anjinho. Nem tanto. Não minto, mas nem
sempre conto toda a verdade. Ou seja, omito as coisas que acho me prejudicariam
se fossem divulgadas.
A partir de Tiago 4:17 ("Comete pecado aquele que sabe fazer o bem e não
faz"), os especialistas na Bíblia condenam por igual o pecado da comissão
(exemplo: roubar) e o da omissão (ex.: não trabalhar).
Para além da hipocrisia (outro dos atributos essenciais a um bom político),
as omissões são o que mais abunda no episódio em cartaz da polémica da nomeação
de Franquelim Alves para secretário de Estado.
É, no mínimo, hipócrita questionar a idoneidade de Franquelim para ser membro
do Governo quando ninguém levantou a voz ou esboçou crítica quando ele foi
nomeado para distribuir os milhões do Compete, um programa do QREN.
As omissões são o que mais me incomoda quando olho para este caso. Para
começar, a omissão no seu curriculum dos 11 meses (novembro 07-outubro 08) em
que foi administrador da SLN - onde cometeu o pecado da omissão ao abster-se de
comunicar às autoridades as irregularidades que testemunhou e ao não informar
Miguel Cadilhe (que assumiu a presidência do grupo em junho 08) da verdadeira
dimensão dos buracos que teria de enfrentar.
Para se ser um bom político, não basta ser hipócrita competente e bom
mentiroso. Também é preciso ter sensibilidade e bom senso. E a nomeação do
secretário de Estado do Empreendedorismo revela que Passos não está na plena
posse destas duas últimas qualidades.
Não basta dizer que Franquelim não está a contas com a Justiça. Também
Ricardo Salgado não está, mas, apesar da sua competência, espero que não passe
pela cabeça do primeiro-ministro nomear para ministro das Finanças um banqueiro
que corrigiu por três vezes a declaração do IRS de 2011, sendo que na última os
rendimentos declarados eram 8,5 milhões de euros superiores à primeira.
E o facto de Godinho Lopes ter sido ilibado no caso da vigarice com o aluguer
dos paquetes para a Expo 98 não faz dele uma pessoa elegível para substituir o
Álvaro no Ministério da Economia, pois não?
Retirada daqui