
Recusei os duodécimos porque tenho a sorte - talvez condimentada por alguma,
pouca, sabedoria - de enfrentar esta tempestade equipado com gabardina, galochas
e guarda-chuva.
Não só estou completamente desalavancado (sem dívidas), como
ainda por cima tenho um trabalho que me garante um salário religiosamente
depositado no banco ao fim do mês.
Sem ofensa para Américo Amorim (que afirma não ser rico) e Cristiano Ronaldo (que declara ser rico, além de bonito), e dado que não sou importante ao ponto de ter de aparentar humildade, até posso confessar que me sinto rico - pelo menos de acordo com a sábia definição do historiador Edward Gibson, uma vez que tenho rendimentos superiores às despesas e as despesas correspondem ao essencial dos meus desejos.
Sem ofensa para Américo Amorim (que afirma não ser rico) e Cristiano Ronaldo (que declara ser rico, além de bonito), e dado que não sou importante ao ponto de ter de aparentar humildade, até posso confessar que me sinto rico - pelo menos de acordo com a sábia definição do historiador Edward Gibson, uma vez que tenho rendimentos superiores às despesas e as despesas correspondem ao essencial dos meus desejos.
Rogando-vos que me perdoem o desabafo que justifica a minha opção em receber
por inteiro, e na altura devida, subsídio de férias e 13.0º mês, confesso ter
ficado espantado por esta minha recusa dos duodécimos ter sido também a adotada
por cerca de 2/3 dos trabalhadores das empresas privadas
O facto desta recusa ter implicado o empenho ativo de a manifestar, já que
por defeito estariam no regime de duodécimos, só aumentou a minha surpresa, pelo
que me tenho esforçado, espremendo as meninges e lendo a propósito, para tentar
compreender o fenómeno e aprender com ele.
À primeira vista, Fernando Ulrich tinha razão quanto à capacidade das
famílias para acomodarem mais austeridade.
Em vez de aceitarem o regime inventado pela UGT (e que recebeu pronto apoio
de Governo e do PS e a firme oposição da CGTP) para mitigar o enorme aumento da
carga fiscal, os trabalhadores preferiram aguentar estoicamente, recusando a
anestesia que podia camuflar a dor, e ajustaram as despesas de modo a poderem
viver com aquilo que têm.
Se encararmos esta questão como uma sondagem ao estado da tesouraria dos
lares portugueses, Passos e Gaspar têm razões para sorrir, pois ela parece
revelar que as famílias com rendimentos mais baixos, que têm o dinheiro contado
até ao último cêntimo, não foram muito fustigadas pelo brutal aumento de
impostos, já que puderam dispensar a ajuda dos duodécimos.
Já quanto às famílias de classe média, a recusa dos duodécimos significa que
ainda dispõem de margem para ajustar os consumos mensais.
A má notícia é que receber 14 salários (uma modernice da Europa do Sul) faz
parte da cultura dos trabalhadores portugueses, o que é um sério obstáculo aos
planos do Governo e das organizações patronais para aproveitarem a deixa e
reduzirem o vencimento anual a 12 prestações mensais.
O lado muito bom da coisa é a nossa enorme capacidade de adaptação a
situações adversas, que nos leva a preferir viver no incómodo da incerteza do
que numa tranquilidade enganosa.
Retirada daqui