quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

CONFISSÃO DE GUTERRES


Na semana passada, Passos foi entrevistado, tendo-se desenvencilhado relativamente bem dos entrevistadores, Nuno Santos e Judite de Sousa, cujo esquisito arranjo do cabelo logo deu ar de uma certa ferocidade, (lembram-se das melosas entrevistas a Sócrates?)

Para além das más notícias (aí nunca mente…) só cometeu um lapso ao dizer que o ensino acabaria por ser pago, o que obrigou o ministro Nuno Crato vir defender o contrário, logo no outro dia, e a permitir a Seguro, que está cada vez mais demagogo, arrufar que Passos e Crato se entendessem. Nisto tem toda a razão.

Nesta mesma semana, aconteceu uma outra entrevista, com Guterres. Se da primeira nem todos gostaram, a segunda foi uma confissão corajosa. Guterres assumiu publicamente que cometeu erros (a compra dos submarinos) e concorreu para a desgraça em que se encontra o país. 

Por sentir-se culpado de deixar o país de tanga ou porque se perfila como possível candidato à presidência da República, não se sabe, teve pelo menos a coragem que não têm Mário Soares que, sendo um dos grandes beneficiários do regabofe, se tivesse vergonha, deveria estar calado e agora grita porque vê inseguras algumas benesses, Cavaco, Durão Barroso, Santana Lopes, Sócrates, um naipe de governantes muito distraídos, obcecados pela luxúria dos gastos e das obras megalómanas, uns mais do que outros.

Do Orçamento para 2013, como já é notório e segundo Passos na entrevista, não ressalta nada de bom. É só fava. Estamos a ver que nenhum político nos salva, se não for cada um de nós a contribuir para nos safarmos da bancarrota. E muito menos com a Esquerda que ainda vive na ilusão do brilho de rubros sóis. 

O PCP e o BE têm ganho nas ruas com a crise social, foi sempre assim, enquanto o PC ainda mantém a cassete roufenha de há meio século. Ambos gritam Portugal fora do Euro (não sei onde querem ir buscar o dinheirinho para viver), defendem a queda do governo, dizem o Orçamento inconstitucional.

 Carreira das Neves, esse é de opinião que muitas famílias já fizeram o seu ajustamento à crise, mudando de vida e vivendo com o que têm. Só o governo é que em muita coisa ainda não, como a reforma profunda de um Estado, esbanjador e perverso.

Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 6 de Dezembro de 2012