domingo, 30 de dezembro de 2012

A FRATURA QUE AMEAÇA O PSD

"As questões da Casa da Música ou da RTP mereciam que fôssemos à Avenida dos Aliados manifestarmo-nos". Eis uma das frases de Paulo Rangel em entrevista ao Porto Canal, que poderia albergar o PS, o PCP, o Bloco de Esquerda, mas paradoxalmente é fraturante no seu próprio partido. 


Não porque o PSD seja incapaz de albergar sensibilidades, correntes e até fações, que têm sido uma das suas virtudes mais orgânicas, mas porque o caso vai tornar-se sério à medida que o atual Governo se for desgastando e questões nacionais como o desemprego, as falências e o empobrecimento confluírem para as sessões de esclarecimento e os comícios das eleições autárquicas de 2013, retirando-lhes boa parte da disputa tradicional entre propostas locais.

Desde 1995, quando, no congresso da sucessão de Cavaco Silva, Luís Filipe Menezes foi pateado por dizer que a corrente de Durão Barroso, que se tornaria líder, representava o elitismo centralista ["sulista" na frase original] e liberal, que não víamos um PSD tão dividido. 

Já não apenas nas expressões tradicionais da sua fundação e refundação, o PPD e o PPD/PSD e respetivas subcategorias ideológicas ou meramente idiossincráticas, mas ainda numa terceira linha muito dominada por autarcas desesperados pela falta de meios financeiros para acorrer à emergência social de concidadãos tão próximos que não podem ser ignorados com recurso a discursos prometendo amanhãs que cantem ou em exercícios sobre tabelas numéricas e percentagens mais ou menos manipuláveis para consumo do circo mediático.

E mesmo para aqueles que, como eu, possam considerar que Rui Rio chega tarde a esta frente, a verdade é que não pode deixar de constituir forte sinal político que o presidente da Câmara Municipal do Porto use o peso da função para, no recente processo de venda da ANA, protestar que "o Estado verdadeiramente não cumpriu o que devia em termos de interesse nacional", querendo significar este interesse nacional nem mais nem menos que a garantia da expansão do Aeroporto Francisco Sá Carneiro.

Ninguém sabe ao certo se esta terceira linha do PSD se consubstanciará em algo mais que uma fratura ameaçadora para os resultados autárquicos do partido, mesmo conhecendo - como eu conheci nas últimas semanas - o maior desejo de alguns autarcas minhotos: que os ministros não apareçam na campanha eleitoral. E o alívio de outros por não serem recandidatáveis a uma função que deixou de ser a que sempre conhecerem para, na curiosa expressão que tomo a um deles, passar a ser a de "regedores" [antiga figura da administração da ditadura do Estado Novo].

E há sempre uns quantos de bico calado, esperançados em passarem entre a chuva e serem eleitos à conta de tiros nos pés que o PS possa ir dando por esse Poder Local fora.

Retirada daqui