terça-feira, 27 de novembro de 2012

ERA UMA VEZ...

A FONTE DOS PARDAIS

A Fonte dos Pardais
Era uma vez uma fonte à beira da estrada. Os pardais das árvores vizinhas tinham ali o seu ponto de encontro

Matavam a sede, tomavam banho, chilreavam uns com os outros. 


De semana a semana, vinha um homem, sempre de automóvel, buscar água à fonte. Enchia uma quantidade de garrafões de plástico e, depois, abalava. 

Nessas alturas, a pardalada fugia para o poiso das árvores e ficava a observar. 
- O que é que ele vai fazer com tanta água? - intrigava-se um pardalito novo. 
- Deve ir regar as couves - sugeria um pardal. 
- Para ele regar as couves é pouca - replicava uma velha pardoca, muito conhecedora da vida. 
- Então é para ele beber - propunha outro pardal. 
- Para ele beber é muita - replicava a velha pardoca. 
- Para o que será? - perguntava o pardalito, sem que ninguém soubesse responder-lhe. 

Decidiu investigar. Voou atrás do automóvel, mas como ainda tinha as asas com pouca força e a estrada era às curvas e contra-curvas, perdeu-lhe o rasto. E perdeu-se. 

Esvoaçou ao calhas, até descer sobre um telheiro, junto à estrada. No telheiro havia melões à venda e cebolas e batatas e garrafões de vinho. Alto lá! E também havia garrafões de água, tal e qual os que o homem do automóvel enchia, na fonte dos pardais. 
Se o pardal soubesse ler, leria no rótulo dos garrafões: "ÁGUA DA FONTE DA SAÚDE - Graças a ela, os novos crescem e os velhos não encolhem". 

Aos saltinhos, diante dos garrafões, o pardalito admirava a fotografia do rótulo. Lá estava a fonte, centro da sua vida, e uns passarinhos a beber água no rebordo do tanque. Vendo bem, aquele mais pequeno, à direita, podia ser ele, o pardalito aventureiro. 

Muito orgulhoso da sua descoberta, o pardal voou muito alto, tão alto que, lá de cima, viu o telheiro dos garrafões, a estrada às curvas e a fonte da Saúde ou dos pardais, donde ele viera. 

Disparou em direcção ao ponto de partida e muito excitado piou para os companheiros: 
- Já sei o segredo dos garrafões. O homem anda a vender o nosso retrato mais o retrato da nossa fonte. 
- E a água para que serve? - perguntou um companheiro. 
- Para segurar o nosso retrato - respondeu, prontamente, o pardalito.

António Torrado e Cristina Malaquias, aqui