SÓ UM DIA
- Já cá falta a chuva? - disse mais alguém, chapinhando na lama. - Que dia horrível.
Trovejou e choveu que tempos. Depois de muito ter barafustado, o dia cansou-se.
Pararam chuva e trovões. Foi um alívio. Ficou o ar lavado e a terra encharcada e contente. - Há dias piores - disse alguém.

O dia nasceu enfarruscado. A pesada manta de nuvens cobria o céu todo, sem deixar de fora sequer uma nesga de azul. Devia ser do frio.
As pessoas iam à sua vida, encafuadas nos seus pensamentos, sem a sombra a acompanhá-las. Faltava a luz do Sol.
- Que dia tão feio - disse alguém.
O dia sentiu-se e, ofendido, mais carrancudo se pôs. E protestou, em forma de trovoada.
Trovejou e choveu que tempos. Depois de muito ter barafustado, o dia cansou-se.
Pararam chuva e trovões. Foi um alívio. Ficou o ar lavado e a terra encharcada e contente. - Há dias piores - disse alguém.
Não era um elogio, mas para aquele dia, que ainda não ouvira uma palavra amável, soou a elogio. Com um suspiro reconfortado, deixou que uma brisa desvanecesse as nuvens.
Começaram a desenhar-se as sombras atrás das pessoas.
- Ainda vamos ter um lindo dia? - disse alguém.
O dia abriu-se num sorriso que rasgou o céu de par em par, muito azul, muito luminoso.
Brilharam as ervas e as folhas ainda molhadas.
- Que dia maravilhoso - diziam as pessoas umas para as outras.
O dia também era da mesma opinião. Mas de si para si comentou: ?Como as pessoas são inconstantes. Ora dizem uma coisa ora dizem outra. Não as entendo".
Pois era. Para entender as pessoas um dia não bastava?
António Torrado e Cristina Malaquias, aqui