domingo, 30 de setembro de 2012

O NÓ QUE SE APERTA À VOLTA DO NOSSO PESCOÇO


Há um nó na nossa sociedade que ninguém está a ser capaz de desatar: as pessoas que deviam domar o monstro são as pessoas que o monstro alimenta há décadas.

Do PSD ao PS, do CDS ao Bloco e ao PCP, cada partido e cada deputado desempenha as mesmas coreografias de sempre, seja de apoio ou de oposição, mesmo quando tudo parece desabar à sua volta. 

Não há imagem mais emblemática desse estado de coisas do que Catarina Martins a protestar contra o governo à porta do Palácio de Belém, enquanto uma manifestante lhe gritava aos ouvidos "gatunos, gatunos, é tudo igual".

Este "é tudo igual" é absolutamente terrível porque, no fundo, é também absolutamente verdadeiro. Claro que dissolver a individualidade de cada político numa massa indistinta é o melhor convite para o aparecimento dos iluminados anti-sistema, que habitualmente são mais perigosos do que aqueles que lá estão. Só que o afundanço de Portugal é também o afundanço de um sistema que não está a ser capaz de dar respostas aos problemas do país, na medida em que essa resposta passa por uma modificação pro-funda das suas regras defuncionamento.

Mas quem tem, neste momento, a coragem, a capacidade e a inteligência para matar o pai? Este conflito político-edipiano, chamemos-lhe assim, esteve bem à vista no último Conselho de Estado: os conselheiros que supostamente deviam salvar o país da TSU eram os mesmos que tinham contribuído ao longo de anos e anos para o estado a que o país chegou. O povo quer pureza, novas atitudes e caminhos alternativos, mas é como procurar virgens no meio de um bordel. 

E à falta de respostas, o nó continua a apertar. Em redor do nosso pescoço.

João Miguel Tavares, aqui