Durante anos foram designadas como "ADN
lixo", mas afinal as partes do nosso código genético que não codificam proteínas
e para as quais ainda não se tinha encontrado uma função parecem desempenhar um
papel essencial na regulação da atividade de genes e no aparecimento de certas
doenças. São verdadeiros interruptores genéticos.
A grande maioria do "ADN-lixo" é na verdade um grande painel com milhões de
interruptores que regulam a atividade dos nossos genes. Sem esses controlos, os
genes que codificam as proteínas não funcionam. E mutações nessas áreas podem
levar à doença, explica um resumo do trabalho publicado hoje em várias revistas
científicas, incluindo a Nature e a Science.
Pierre Tambourin, diretor-geral da Génopole, em França, descreve a descoberta
como "muito importante, porque mostra que o ADN não-codificante é essencial"
para a vida. "É quase tão importante como a publicação da sequência do genoma
humano", disse à AFP.
O ADN humano (ácido desoxirribonucleico) é composto por 3,3 mil milhões de
pares de bases (letras), que programam as instruções para sintetizar as
moléculas que formam cada célula, tecido ou órgão humano.Mas apenas 2 a 3% deste
material é de codificação, ou seja, utilizado para a síntese de proteínas no
corpo, uma fracção muito pequena do genoma humano. A sequenciação do genoma
humano, no âmbito do Projeto Genoma Humano, permitiu no início dos anos 2000
identificar cerca de 22 mil genes.
O resto do genoma foi inicialmente chamado de "ADN lixo", porque foi
considerado inútil.
Mas ao decifrar as sequências não-codificadoras, a equipa
identificou 4 milhões de "interruptores" genéticos.
Estes novos dados foram descobertos por cerca de 400 cientistas
internacionais (biólogos, geneticistas, matemáticos) envolvidos no projeto
ENCODE, lançado em 2003 para fazer uma enorme enciclopédia de ADN.