Não faltam os recados ao governo, que naturalmente anda nervoso perante um mar encapelado de dificuldades em cumprir o memorando, com Passos Coelho a dizer que se “lixem as eleições”.
Quereria antes dizer, de uma forma popular, que mais importante que ganhar as eleições, já as autárquicas, é sacudir o país da crise, recuperar a confiança, derrotar o pessimismo.
Comecemos por Rui Rio, que, sempre lúcido, mexeu numa doença antiga: “Os governos têm de ter a coragem de encerrar em Lisboa serviços de direcções-gerais, instituições públicas que não têm utilidade em relação a outras com grande importância” (…) Não é correcto nem justo olhando para o panorama nacional, vermos serviços a encerrar no interior e não haver o mesmo tipo de notícias relativamente aos grandes serviços concentrados na capital, onde se encontra a maior fatia dos funcionários públicos”.
Efectivamente, as imensas gorduras do Estado encontram-se no Terreiro do Paço. Lisboa é libertina e gastadora, está na órbita do sistema (de grandes polvos de interesses) de que o governo continua refém, em prejuízo do país e sobretudo do interior que continua a desertificar-se. Costuma dizer-se que Lisboa é o país, o resto é paisagem. É a nata, o resto é (digam, por favor o que é…).
Por sua vez, outra voz do Norte, D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga, entendendo que as medidas de austeridade “são demasiado pesadas para algumas pessoas”, declarou mesmo ser necessário saber “quanto ganham por mês os governantes, quantos secretários têm, quantos motoristas têm, quanto ganham por cada reunião”.
A sul nada feliz tem estado M. Soares, quando entende que a impopularidade do governo e as manifestações de descontentamento são motivo para a sua queda. Esquece-se que o governo foi eleito para quatro anos e que, apesar de tudo, o PSD ainda ocupa o topo nas sondagens. Disparates.
Já D. Januário, bispo das Forças Armadas, que também come à mesa do Orçamento, errou no alvo, ao chamar corrupto a este governo, quando havia mais razões para chamar ao anterior, mas calou, “beatificando” agora Sócrates cujos ministros eram, disse, uns anjinhos, comparados com os de hoje, diabretes, revelando pouco senso e alguma cegueira partidária.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 2 de Agosto de 2012