Ninguém ignora uma pessoa pobre por despeito.
Se baixamos os olhos é porque nos custa ver o outro a viver na miséria. Todos nós nos arrepiamos, emocionamos e sentimos tristeza quando vemos alguém a passar fome ou a viver indignamente. Uns mais do que outros mas todos nós já sentimos compaixão pelo menos uma vez na vida. É inevitável, faz parte do âmago do ser humano. Qualquer pessoa por mais egoísta que seja tem uma parte - nem que esteja adormecida - de altruísmo.
As pessoas pobres não escolhem ser pobres, nem a pobreza é causada por estas. Qualquer pessoa, independentemente do estatuto social, precisa de viver com esperança, dignidade, gosta de se sentir útil, com capacidade de trabalho e usar a sua criatividade. Ninguém gosta de passar fome ou de viver à margem da sociedade. Ninguém escolhe isto para si. A maior parte das vezes é uma questão de sorte. Uns nascem com mais obstáculos do que outros e basta que essas barreiras sejam retiradas para que tenham uma vida melhor. Há lugar para todos. É assim que a economia deve pensar.
A crise e a pobreza
A crise atual tem contribuído ainda mais para a pobreza. O facto dos pacotes de ajuda estarem direcionados primeiramente para as instituições financeiras, as mesmas que originaram a crise, e os cidadãos estarem em dificuldades crescentes como já referi aqui, está a aumentar cada vez mais a bola de neve que, por enquanto, ainda não encontrou um travão. Será que deve fazer parte da estratégia de combate à crise a componente humana para além dos números? Parece que sim.
A crise também colabora, inevitavelmente e compreensivelmente, para que as pessoas e empresas contribuam cada vez menos para campanhas de solidariedade porque se têm cada vez menos para si também se sentem impotentes para ajudar os outros. Por outro lado, o sentimento de desconfiança é cada vez maior porque não se vê para onde vai o dinheiro, de que forma é usado e o que é feito com ele. Provavelmente a maneira de como se tem feito solidariedade vai ter de mudar no sentido de se colocar os beneficiários no campo de ação para que estes sejam autossustentados, autónomos e serem eles próprios a criarem riqueza para si e para os outros. Acredito que tem de ser este um dos caminhos para se erradicar a pobreza. Em vez de se doar dinheiro a organizações porque não ajudar monetariamente pessoas pobres a criarem a sua própria empresa? Uma horta, um ATL, um infantário, um centro recreativo, um minimercado, uma empresa de jardinagem, de limpeza, por exemplo. O capital de investimento é reembolsado de forma a incutir responsabilidade mas quem investe não é sócio da empresa e, por isso, não tem direito aos dividendos. Quem investe não tem prejuízo nem dividendos, apenas contribui - o que já é imenso - em combater a pobreza e os problemas sociais inerentes.
Uma ideia de combate à pobreza
Os jovens licenciados - e outros - que infelizmente ainda não encontraram um lugar para si podem ter um impacto positivo na sociedade da seguinte forma: através da sua criatividade e conhecimentos podem criar uma ideia de negócio em que acreditam e encontrar um grupo de pessoas de uma comunidade pobre para serem sócios dessa empresa. A ideia passa por procurarem investidores que apesar de filantrópicos recebem o valor investido como se tivesse sido um empréstimo sem juros. Desta forma criam o seu próprio emprego, postos de trabalho, dão oportunidade a outras pessoas ou empresas de terem um papel solidário ativo e ainda contribuem para a erradicação da pobreza no nosso país. Pobreza apenas gera ainda mais pobreza e problemas socias. Será que esta ideia tem pés e cabeça?! Outras sugestões?
Acredito que se já fomos capazes de acabar com outros flagelos impensáveis em tempos de serem extintos, como a escravatura e epidemias, também somos capazes de eliminarmos a pobreza. Uma sociedade civilizada só pode ter um percurso evolutivo e não de retrocesso. Eu acredito que é possível.
Retirada daqui