sábado, 18 de agosto de 2012

ALI, O CÓMICO, E O FIM DA CRISE

 
A II Guerra do Golfo fez emergir para a história do anedotário mundial um ministro de Saddam Hussein. Envergando galões reluzentes, Said al-Sahaf foi durante várias semanas o protagonista da batalha da Informação iraquiana.

À passagem de cada hora correspondia a proximidade de aniquilamento do regime pelas tropas da coligação liderada pelos norte- americanos, mas o tipo colocava pose de artista de cinema e tentava passar ideia contrária. O ridículo atingiu o cume quando as cadeias internacionais de televisão passaram imagens da tomada do aeroporto de Bagdad e Said apressou-se a desmentir, jurando já estarem os soldados invasores sepultados nas areias do deserto! Uma acumulação de dislates valeu-lhe, é claro, o epíteto de Ali, o Cómico.

A não coabitação entre a lógica factual e virtual contém, pois, perigos para quem comunica.
Um líder - de primeira ou segunda grandeza, pouco importa - é tanto mais credível quanto é capaz de ajustar o seu discurso, não incorrendo no risco de ser tido por imprudente, quando não demagógico.
Ali, o Cómico, tem sido múltiplas vezes recordado em Portugal nos últimos anos a propósito da recessão pela qual o país passa e o anúncio por parte de vários governantes de uma data para o final do ciclo recessivo. A carga de subjetividade aconselharia à não comparação com o louco iraquiano, mas, enfim, o tradicional pessimismo luso leva a tal - ajudado pela confirmação diária da degradação das condições de vida.

Diversos protagonistas políticos têm ensaiado o exercício de anúncio de uma data a partir da qual a recessão se afastará do horizonte dos portugueses. Refletido não apenas no aumento das falências de empresas e da taxa de desempregados, o notório empobrecimento diário do país é apetecível para prognósticos. Quanto mais baixo for o patamar a partir do qual se parta, mais fácil se torna a probabilidade de acerto nos prognósticos...

2013 é a mais recente data prevista para a travagem do destrambelhamento das contas do país e concomitante início de recuperação. O facto de a previsão ter a assinatura do primeiro-ministro vale o que vale. São demasiadas as condicionantes, incluindo as externas, capazes de legitimarem a confirmação de um cenário antidepressivo a partir do próximo ano.

Sabendo serem os portugueses desconfiados por natureza, é Passos Coelho inconsciente ao tentar incutir ânimo e esperança a quem não vislumbra uma folga no aperto das suas vidas? Claro que não.
Ao ter o cuidado de reconhecer o atual mau período e evitando quantificar a inversão nas dificuldades, o primeiro-ministro terá sido prudente.

Por mais que os seus detratores (radicais) tentem, não corre o risco de ser comparado a Ali, o iraquiano.

Retirada daqui