A II Guerra do Golfo fez emergir para a história do anedotário
mundial um ministro de Saddam Hussein. Envergando galões reluzentes, Said
al-Sahaf foi durante várias semanas o protagonista da batalha da Informação
iraquiana.
A não coabitação entre a lógica factual e virtual contém, pois, perigos para
quem comunica.
Um líder - de primeira ou segunda grandeza, pouco importa - é tanto mais
credível quanto é capaz de ajustar o seu discurso, não incorrendo no risco de
ser tido por imprudente, quando não demagógico.
Ali, o Cómico, tem sido múltiplas vezes recordado em Portugal nos últimos
anos a propósito da recessão pela qual o país passa e o anúncio por parte de
vários governantes de uma data para o final do ciclo recessivo. A carga de
subjetividade aconselharia à não comparação com o louco iraquiano, mas, enfim, o
tradicional pessimismo luso leva a tal - ajudado pela confirmação diária da
degradação das condições de vida.
Diversos protagonistas políticos têm ensaiado o exercício de anúncio de uma
data a partir da qual a recessão se afastará do horizonte dos portugueses.
Refletido não apenas no aumento das falências de empresas e da taxa de
desempregados, o notório empobrecimento diário do país é apetecível para
prognósticos. Quanto mais baixo for o patamar a partir do qual se parta, mais
fácil se torna a probabilidade de acerto nos prognósticos...
2013 é a mais recente data prevista para a travagem do destrambelhamento das
contas do país e concomitante início de recuperação. O facto de a previsão ter a
assinatura do primeiro-ministro vale o que vale. São demasiadas as
condicionantes, incluindo as externas, capazes de legitimarem a confirmação de
um cenário antidepressivo a partir do próximo ano.
Sabendo serem os portugueses desconfiados por natureza, é Passos Coelho
inconsciente ao tentar incutir ânimo e esperança a quem não vislumbra uma folga
no aperto das suas vidas? Claro que não.
Ao ter o cuidado de reconhecer o atual mau período e evitando quantificar a
inversão nas dificuldades, o primeiro-ministro terá sido prudente.
Por mais que
os seus detratores (radicais) tentem, não corre o risco de ser comparado a Ali,
o iraquiano.
Retirada daqui