quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A LEBRE E OS TIROS


António Borges que dizem ser o 12º ministro do governo, deu uma entrevista à TVI, que, supostamente convencido de dizer toda a verdade, afirmou sem rebuço: “não é necessária mais austeridade”.
 
Oxalá, mas não se vê como é possível, quando se verificou mais um buraco nos impostos (2.8 mil milhões) e quando se sabe que o défice de 4.5% para este ano não irá ser cumprido.
 
Apesar de tantos sacrifícios.
 

A não ser que nos levem coiro e cabelo, roupas interiores, tudo. Essa meta parece casa vez mais longínqua, com o desemprego a subir e a economia a descer, coisa que parece que ninguém previu. Só os senhores dos maus agouros… E acrescentou esta coisa espantosa: “o que se está a passar [queda de receita] é extraordinariamente positivo para o país”. Significa que “a economia está ajustar muito mais depressa do que pensávamos”. Vê-se.
Se tudo isto não é pacífico, também os critérios anunciados para a privatização da RTP fizeram erguer protestos. Se o CDS logo veio dizer que AB não pode falar em nome do governo e Aguiar Branco afirmar que a apresentação da privatização e critérios são prerrogativas do governo, a verdade é que isto não passou do lançamento propositado de uma lebre, para ver tiros e reacções.
 
Nenhuma jogada foi inocente. Como não haverá privado interessado na compra, lança-se a hipótese de concessioná-la. Era trabalho que tinha de ser mostrado à troika: a RTP1 vai ser concessionada e a RTP 2 encerrada, ficando o país sem serviço público informativo. E, desde logo, se vai para as mãos de privados, como se percebe que continue o Zé povinho a pagar a taxa tão pesada do áudio visual? Claro que a RTP tem sido outro sumidouro de dinheiro, nosso. Ainda recentemente foram adquiridos 57 automóveis de topo de gama para os maiores.
 
E há jornalistas a vencer, escandalosamente, chorudos ordenados e programas de duvidoso interesse público. É mais um exército a comer. Quanto à troika, (já aí está para novo exame) que reveja a receita e dê a mão à palmatória e mais tempo. Deu com os burrinhos na água… Para maus gestores da coisa pública, já bastavam os nossos.
 
Post-scriptum Inocente também não foi a substituição de AB por MR (Miguel Relvas). Já se queimou em muitas loucas fogueiras e irradiaria mais vozes de protestos.
 
É melhor remeter-se ao recato.
 
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 30 de Agosto de 2012