
Para
além da troika de palavras, debate “vivo, mas sem conteúdo”, segundo Marcelo R.
Sousa, mais ásperas da parte da oposição, e mais remetidas à defesa da parte de
Passos Coelho que disse mesmo que não “não vai pôr porcaria na ventoinha para
assustar os portugueses”, mas fazer tudo para minorar os efeitos da crise.
Passos Coelho, é verdade, não
mascarou a situação do desemprego, cujo aumento ultrapassou todas as previsões,
por factores internos e externos, mas, quanto ao futuro, também não anunciou
medidas de alcance económico para minimizar os efeitos da crise e teimosamente
parece querer continuar os grandes objectivos que o Governo assumiu.
Dizemos
parece, porque pensamos que está à espera que a Troika reconheça, ela, os erros
de análise e de receituário e o esforço do “bom aluno”, que terá gerado no
exterior a credibilidade. Não quer ser ele a pedir, pelo menos para consumo
interno, mais tempo e mais dinheiro. Mas não deixará, por certo, de aceitar uma
porta aberta. Ver-se-á o que vai acontecer na quinta visita da Troika, esta
semana. Pode haver boas notícias.
Duas coisas são certas:
primeira, o povo está farto de dar carne e sangue a um monstro que é o nosso
défice crónico e mostra-se inquieto; segunda, o governo terá de implementar
medidas para corrigir a derrapagem orçamental, uma parte causada pela
declaração de inconstitucionalidade do corte dos subsídios. Não falou, por
estratégia, da receita, mas garantiu que não está a preparar aumentos de
impostos.
Mas pode estar a pensar em taxas. Tudo vai ter ao mesmo, arrancar os fundilhos
à classe média, cada vez mais pobre e desfeita. O governo tem um medo enorme de
tocar em interesses instalados, rever contratos com as empresas público
privadas, mexer em comedoiros gigantes, abanar corporações, suprimir instituições,
institutos, mordomias, comedorias.
Seguro, por sua vez, puxou de
toda a artilharia socialista, assumindo-se já como alternativa, criticando
Passos pela escolha do “caminho errado”, o da “austeridade a qualquer preço”,
esquecendo-se que foi sobretudo o PS (Guterres e Sócrates) que meteu o país
neste buracão financeiro e que foi o anterior governo que negociou com a
Troika. Os políticos, por vezes, dão um ar de amnésia. E nem sequer pensou que
ele pode não ser a alternativa a Passos.
Quanto a consensos, disse mesmo não na
cara de Coelho, “na defesa do interesse nacional”. Onde é que já ouvimos isto?
Será assim tão puro e inocente? Se assim for, mais dificuldades pode esperar o
país que não está preparado para mudar de governo como quem muda de camisa, à
boa maneira da I República. Ou à moda grega.
O que se pede e se exige é que os
políticos tenham maneiras, ideias criativas, honestidade, bom senso e
consensos, os ministros estudem bem os dossiês.
E que haja juizinho.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 19 de Julho de 2012