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Peço desculpa por vos maçar com um naco da minha vida pessoal.
Só o faço por achá-lo interessante em termos de história comparada no quadro da
ideia que formei sobre as formidáveis telenovelas dos cursos de Sócrates e
Relvas serem, afinal, a expressão mais mediática da bandalheira que o negócio do
ensino está a produzir, atingindo as próprias elites.
De regresso a Portugal - de onde partira para não ser preso pela PIDE, embora
não fosse comunista - obtive trabalho e emprego à conta de jovem promessa, mas
por pouco tempo: uns simples cravos num 25 de Abril de que fui cúmplice
distribuidor na Redação de "O Primeiro de Janeiro" bastaram para colocar todas
as dúvidas, uma vez que o grande jornal liberal do Porto estava nas mãos do CDS
de então, que haveria de coligar-se com o PSD e os monárquicos na Aliança
Democrática.
Passei a perigoso comunista, o que me motivou finalmente a
experimentar a militância. Por poucos anos, mas os suficientes para entender o
que a universidade não me ensinara: os ideais são sempre abandonados quando se
perfilam as razões práticas. Concluí, portanto, que o melhor seria substituí-los
à partida pela simples ética republicana: a lei. Coisa que me acompanha com a
persistência das religiões.
Bem, depois, lá me safei. E aqui estou, para vos servir. Com gosto.
Contei-vos isto porque acho que Relvas, como Sócrates, apenas merecem ser
avaliados pelos seus atos políticos, pois os canudos, tal como a mim, em pouco
lhes devem ter servido para a função real. E também porque conheço demasiadas
histórias, algumas delas relatadas nestas páginas, que mostram que foram algumas
universidades, que, na gula do negócio, depois de terem nascido às costas do
Estado e nas costas do ensino público, aproveitaram alguns mecanismos - uns
europeus, como o de Bolonha, outros nacionais, como os das composições
amiguistas dos conselhos diretivos, científicos e pedagógicos - para
abandalharem a atribuição de títulos científicos.
Tal qual a conhecemos, a vida em democracia social, económica e política
exige da sociedade [e do Estado] que produza elites. Não para que essas elites
se transformem em castas sociais superiores - o ensino público tem a obrigação
de impedir essa tentação - mas, sim, para serem referências de credibilidade.
Retirada daqui