terça-feira, 5 de junho de 2012

MUDAR O MESTRE DE CERIMÓNIAS?


Mal, mas sem alternativa de governação.

A síntese do pensamento dos portugueses faz-se a partir do estudo de opinião realizado pela Universidade Católica que o JN hoje publica e é bem paradigmática de como o país está submergido numa espécie de beco sem saída, isto é, padronizado pelos critérios de obrigação ao memorando da troika e, por isso, incapaz de gerar alternativas.

Um ano depois da chegada da coligação PSD-PP ao Poder, os portugueses, embora causticados por programas de austeridade como não há memória, fustigam o principal suporte do Governo, fazendo-o cair nas intenções de voto dos 43 para os 36%, mas não validam uma alternativa. A memória do passado recente, articulada com a falta de protagonismo da nova liderança na criação de um projeto mobilizador, torna inamovível o espaço socialista: os 33% de intenção de voto em setembro do ano passado não sofrem agora nenhuma melhoria.
Há, enfim, uma ambiência de quase resignação, marcada ainda por cima por um facto interessante - e contraditório: o ministro das Finanças, o principal responsável pelo apertar sistemático do cinto dos portugueses, é o mais apreciado de todas as negativas dos ministros, dispondo de 59% de avaliações positivas.
Um panorama político assim, no qual todos parecem rezingões, gerando-se permanentes manifestações de descontentamento mas sem consequências, não é entusiasmante. Como no velho adágio popular segundo o qual em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão, os portugueses parecem viver em estado de insatisfação... dormente.
A falta de otimismo trespassa por praticamente todos os setores da vida nacional, mas, ainda assim, os processos de intenção alternativos não bastam para o convencimento: falta-lhes substância - e o povo não é tolo e sabe estar o país subjugado aos ditames dos seus credores, de pouco adiantando radicalismos ou discursos de rotura.
Em última instância será preocupante mas realista, de facto, o posicionamento do povo segundo o prisma do "tanto faz".
Independentemente dos fogos-fátuos do mundo político-partidário, Portugal dispõe de quase nula margem de manobra para escapar aos ditames do FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu para o financiamento do país. Numa circunstância assim, com o país obrigado a cumprir mandamentos ditados do exterior para receber os milhões de que carece para a sua sobrevivência, não é substancialmente diferente a vivência com os atuais ou outros mestres de cerimónia. É o que sente e pressente o povo.

Retirada daqui