terça-feira, 5 de junho de 2012

ERA UMA VEZ...

O SAPO E A RAPOSA

O sapo e a raposa herdaram umas terrinhas de uma velha bruxa, muito velha, que gostava de sapos e raposas. Mas isso faz parte de outra história.

Aquela que para aqui trazemos conta-nos como foi essa sociedade entre um sapo saparrão e uma raposa raposeca.

 - Vamos colher a nossa fortuna nestas terras, compadre - dizia a raposa.
- Mas antes de colhermos, temos de semear... - lembrava o sapo.
- Acertado preceito, compadre! Vejo que os demorados mergulhos nos charcos não lhe embotaram juízo. E como se faz a sementeira?

O sapo tratou de tudo. Mondou, lavrou, sachou, semeou e, depois, esperou.
- Assim venha a chuva - suspira a raposa, vendo o sapo trabalhar.
Veio a chuva.
- Assim venha o bom tempo - suspirou a raposa.

 Veio o bom tempo e os campos ficaram lindos. Então a raposa, quando as espigas estavam maduras, ajudou o sapo nos trabalhos da ceifa. Deitada à sombra de uma oliveira, guardava-lhe o cântaro da água e amolava-lhe a foice, para que ele ceifasse melhor...

 O sapo ceifou, debulhou e juntou um belo monte de trigo e outro de palha.
- Aqui está a nossa fortuna - dizia a raposa, muito risonha.
Depois de tudo arranjado, os dois sócios foram deitar-se. Na manhã seguinte, a raposa foi ter com o vizinho e compadre e disse-lhe:
- Compadre e amigo, venho fazer-lhe uma proposta vantajosa.
- Diga lá.
- Vamos ambos ao mesmo tempo até à eira, e o que lá chegar primeiro fica com o trigo todo. É assim a modos que o prémio da corrida. Que acha?


 O sapo respondeu-lhe:
- Olhe, minha comadre, fiz uma jura de nunca aceitar propostas sem ouvir os conselhos de um meu colega. Eu não demoro.

 O sapo foi visitar um outro sapo e expor-lhe a proposta da raposa.
- A coisa arranja-se - respondeu-lhe o colega consultado. - Somos tão semelhantes que a raposa não consegue diferençar-nos. Eu parto já para a eira e trato de ensacar o trigo. Tu vais ter com a raposa e, depois de longa discussão, para me dares tempo, aceitas a proposta.

 Assim se fez.
- Um, dois, três... - gritou a raposa, ao dar início à corrida - Quem lá chegar primeiro fica com tudo.
A espertalhona fiava-se na sua velocidade e na pouca ligeireza do sapo. Ela, que não ajudara nada no trabalho, ia, numa corrida, arrebatar tudo só para ela...
Quando chegou à eira e viu o sapo, um sapo a ensacar o trigo, ficou banzada.
- Então eu deixei o compadre para trás. Como é que me ultrapassou?
- Por cima - explicou o sapo. - É que eu salto muito alto.
A raposa teve de se render. Afinal a esperteza e a malandrice não lhe valeram de nada.
Bem feito!

António Torrado e Cristina Malaquias, aqui