Este blogue aposta na
reflexão e na análise dos mais diversos temas relacionados com a
actualidade, exprimindo de forma objectiva, ou reproduzindo com menção
da respectiva autoria, convicções claras e apartidárias sobre quaisquer
assuntos relevantes da vida quotidiana, local ou não, sejam políticos,
culturais, desportivos ou sociais.
É por isso que o
único compromisso possível de assumir, é com a defesa de causas, com
rigor e com seriedade, estando de um ou do outro lado de cada questão,
mas erguendo sempre a bandeira da liberdade de pensamento e da sujeição a
convicções, tendo como lema a consciência social e como princípio a
transparência da res publica.
Talvez por isso, e quem sabe se por isso mesmo, importa dizer que na última reunião do executivo houve quem tivesse entendido
protoganizar o mais rude exemplo do que nunca se espera que aconteça
naquele que é um dos mais importantes órgãos da democracia representativa local
ao impedir, deliberada e reiteradamente, o livre exercício dos elementares
direitos de participação e intervenção de um vereador da oposição.
Efectivamente, no uso de uma incompreensível
e arbitrária prepotência que se pensava já erradicada dos areópagos da
democracia, houve quem tivesse obstado a que um dos seus pares prosseguisse
no uso da palavra para fundamentar a razão da sua abstenção em relação a um dos
pontos da ordem do dia, para logo de seguida, em relação a outro desses pontos,
o impedir de ler a respectiva declaração de voto de vencido.
Tendo em conta o apreço, que é muito,
que tenho pelos munícipes do concelho cumpre-me, enquanto eleito, manifestar a
minha mais profunda indignação pelo ocorrido, e bem assim pela motivação que poderá
ter determinado a adopção dessa atitude, a qual foi testemunhada pelo representante
da imprensa local, e bem assim por alguns colaboradores da autarquia e por dois
autarcas, entre os quais o senhor presidente da assembleia municipal.
Como se sabe, em resultado do
último acto eleitoral houve 6223 eleitores do concelho que votaram na lista
vencedora, tendo havido 4905 eleitores que não votaram nessa lista;
o que daqui resulta é que no órgão executivo, para além dos (4) elementos da lista vencedora, também têem assento (3) vereadores que, não obstante não terem pelouro atribuído, têm
estado atentos, participativos e activos, assumindo uma postura sobretudo
construtiva e preocupada com o bem-estar, com a qualidade de vida e com as
necessidades dos munícipes, e com o desenvolvimento sustentável do concelho.
Assim sendo, não se vislumbra qualquer
razão legítima, ou sequer lógica, que justifique uma atitude que, ao ser posta em prática fez tábua rasa do princípio segundo o qual, “quando se critica, é
desaconselhável ver as coisas por um lado só; a menos que se pretenda ser
deliberadamente injusto”.
Muitos anos antes das ocorrências da pretérita sexta-feira, já Eleanor Roosevelt, diplomata americana
e activista dos direitos humanos, tinha dito que ‘as
grandes mentes discutem ideias e as médias discutem coisas; só as pequenes
discutem pessoas’.
Não creio, no entanto, que seja essa a
razão pela qual haja quem se sinta invariavelmente tão incomodado com as minhas
intervenções.
E também não será, certamente, por falta de coerência política da
minha parte; afinal, apesar de já ter sido dito numa reunião (29/12/2011),
que para mim, independentemente do que seja, tudo está mal, o que é certo é que
em 66 reuniões realizadas até hoje, apenas por uma escassíssima dúzia de vezes
votei contra as propostas apresentadas.
O que significa que concordei com a
quase totalidade das mais de, seguramente, oitocentas deliberações sufragadas,
de entre as quais se destacam as das adjudicações das empreitadas da Nova Alameda
(29/07/2010) e da futura Casa da Cultura (26/08/2010), e a da integração do
município na Associação de Municípios do Carvoeiro-Vouga (06/02/2012).
E para
expressar a minha concordância com essas propostas, fi-lo através de um voto
favorável, com um valor exactamente igual ao dos demais votos favoráveis
expressos. Repito: um voto com um valor exactamente igual ao dos demais votos
favoráveis então expressos, o que faz com que cada um destes votos não seja filho de uma visão dualista e maniqueísta da realidade
que coloca de um lado o bem e os bons, e do outro lado o mal (tudo o resto) e
os maus (todos os outros).
Houve porém, outras situações em que o
meu voto não coincidiu com os demais; em relação aos pólos
escolares, por exemplo e não obstante, enquanto membro da assembleia municipal ter, no anterior mandato, votado contra a carta
educativa concelhia face às dúvidas que continuo a manter sobre o rigor da
conjugação dos critérios lógicos que conduziram ao reordenamento que determinou
o número de obras aí previsto, a verdade é que enquanto vereador do executivo municipal não votei contra a adjudicação
de alguma das oito obras empreitadas.
E se assim é, parece claro que a razão
pela qual as minhas intervenções tanto incómodo causam, só poderá
ter a ver com o facto de, em algumas situações, a fundamentação do meu voto ter divergido radicalmente das demais,
e de que são exemplos a adesão à AdRA (no anterior mandato) e a atribuição de
subsídios às camadas jovens do concelho em 2011, divergência essa que no
entanto sempre fundamentei devidamente.
Em relação à adesão à AdRA porque, ao
contrário de outros pensamentos, entendo que se tratou de uma forma de
permitir um autofinanciamento do município sem recurso formal ao crédito, que
assim recebe em meia dúzia de anos uma parte do que receberia em meio século,
não obstante trazer inevitáveis implicações no nível de vida dos munícipes
durante as próximas gerações.
Já em relação à atribuição de subsídios
às camadas jovens do concelho em 2011, a razão pela qual o meu voto não
acompanhou os demais deveu-se, para além de outras razões, ao facto de nenhuma justificação ter sido dada no sentido
de explicar a razão pela qual uma colectividade desportiva do concelho
beneficiou de um subsídio calculado a partir de declarações destinadas à
majoração do apoio dado a essa colectividade, por ter indicado que a sua equipa
de futebol do escalão júnior era constituída por 4 atletas de fora do concelho
quando na verdade esse número era de 16, a saber: André Francisco, Pierre,
Daniel Francisco, Bryan (Calvão); João Marcelo, Marco (Anadia); Marcelo
Gonçalves, Diogo Marques, Zé Reis, Daniel Costa, Zé Nuno (Aguada); Artur
(Barrô); Leandro, Micael, Tiago Cravalho e Tomás (Sangalhos); e assim,
por esta via, esta colectividade viu 12 atletas serem subsidiados à razão de
121,00€ cada um, em lugar de terem sido subsidiados à razão de 55,00€, o que
significou a atribuição e pagamento pela autarquia e o recebimento pela dita
colectividade, de um valor a mais de 792,00 €, mesmo após ter sido confirmado
na reunião do executivo municipal (30/06/2011), que depois de notificadas
para o efeito, todas as associações
desportivas do concelho com subsídios atribuídos neste âmbito, confirmaram as
indicações dadas.
Como se sabe, um dos
traços de personalidade mais abomináveis do ser humano é a prepotência, necessária
a umbilicalmente ligada à arrogância e à presunção, já que o prepotente julga-se
sempre o ‘mais apto’, o ‘melhor’, o ‘mais capaz’, o ‘mais conhecedor’, o
detentor de todo o superlativo que se possa imaginar, em qualquer área do
conhecimento, seja terrena seja divina, que acredita e faz questão de fazer
crer que ‘nunca erra e nunca se engana’, e que quando o erro acontece, empurra
sempre para outrém a responsabilidade dessa minudência.
É por
isso que o prepotente, que em regra tem
educação limitada e é destituído de polidez e empatia, acaba quase sempre
abandonado pelos seus desiludidos representados, enquanto, solitário, desfila com
à vontade o papel de quem já perdeu a noção de humildade, esse humus (terra) que só se mantém ao
alcance dos que, estando no pódio, continuam a manter os pés assentes no chão
porque nunca esquecem que só à custa do voto dos seus representados chegaram
onde se encontram.
O prepotente é, em suma, todo aquele que
ignora ostensivamente o elementar princípio de vida que ensina que quanto mais
se sabe, mais fica a saber-se que ainda há muito a aprender.
Em política, é obrigação da oposição
manter uma atitude de permanente insatisfação perante tudo o que possa vir a
ser realizado pelo poder em exercício; e daí que ao jurarem solenemente pela sua honra
desempenhar com lealdade as funções que lhe foram confiadas, cumpra aos eleitos interiorizarem
a responsabilidade de que ocupam cargos em órgãos que integram a organização
democrática do Estado, e que têm consagração constitucional.
É por isso que, não querendo ser
injusto, e muito menos deliberadamente injusto, o que me cumpre, enquanto
vereador não-executivo da câmara municipal, é contribuir para esse fim tão
essencial ao prestígio, à liberdade e à independência do exercício do poder
local.
Uma actuação que, no entanto, não faz
com que me sinta a viver num mundo que gira ao contrário, pejado de ignorantes,
e de ociosos dotados de má vontade: é por
isso que pese embora o incómodo repetidamente evidenciado em
relação ao que digo nas reuniões de câmara, o que tenho a dizer, com toda a franqueza, é que o meu lugar continua a ser onde estou.
Quanto a outros, é uma decisão que apenas diz respeito aos seus representados; só a estes compete dizer se actuações
ao nível da que se verificou na última reunião do executivo municipal de Oliveira do Bairro representam
o sopro da vida democrática concelhia ou, ao invés disso, são o sinal claro que anuncia o estertor de uma já moribunda
democracia.
Tudo isto, claro está, falando sinceramente sobre o estado da democracia no concelho de Oliveira do Bairro, onde é efectivamente estranho o modo de exercer o poder, começando a ser pouco menos do que ridículo o modo como é dado cumprimento ao estatuto da oposição!
Desde logo, no que concerne ao sucessivo incumprimento dos direitos, poderes e prerrogativas previstos na Constituição e na lei que o direito de oposição integra, recordando a título de exemplo o que foi dito aqui e aqui.
