terça-feira, 29 de maio de 2012

ERA UMA VEZ...

A LIÇÃO DO PEIXE

Num colégio de órfãos de antigamente, para onde iam os meninos que a família não podia sustentar, passava-se muita miséria.


Miséria é modo de dizer... fomenica, larica, galga e outros nomes que a fome tem, mas que não disfarçam a penúria nem aconchegam o estômago. 

As refeições, na enorme cantina enregelada, eram um fazer sofrer e um fazer de conta.

Só o regente do colégio - o prefeito -, à cabeceira da mesa, comia a seu gosto. Dizia ele que era por ser grande, grosso e grave e que os pequenos, por serem pequenos, não precisavam de comer tanto. Mentiras. Desculpas.

Num almoço, puseram em cada prato dos pensionistas um peixinho de nada com a pouca companhia de uma concha de arroz.

Um dos órfãos, em vez de lançar o garfo faminto à refeição, encostou a boca à borda do prato e pôs-se a falar baixinho, como quem reza.

Os colegas estranharam e, lá do fundo, o prefeito quis saber o porquê daquela extravagância.


 - Estou a conversar com o peixe, senhor - esclareceu o mocinho. - Como o meu pai, que era pescador, morreu no mar, estou a perguntar-lhe se ele chegou a conhecê-lo.
 - E que te respondeu ele? - indagou o prefeito, divertido, entre duas garfadas.
- Respondeu-me que não se lembra, porque é muito pequenino, mas que talvez o peixe grande, que está no prato do senhor prefeito, saiba dar-me alguma notícia.

Parece que a partir deste caso os meninos do orfanato passaram a ter ração melhorada.

Vejam o que um peixe pequenino pode ensinar aos grandes.

António Torrado e Cristina Malaquias, retirada daqui