
E de repente (quase) todos os líderes europeus e respetivos congéneres dos países
mais ricos do Mundo (re)começaram a falar do crescimento económico como a
panaceia para os males que nos consomem os nervos e nos obrigam a esticar os
orçamentos.
E, de repente, lembrei-me do professor Daniel Bessa, com quem tive o
privilégio de, durante mais de um ano, calcorrear parte do país, numa iniciativa
do BCP em que o ex-ministro falava do andamento do país e do Mundo a plateias
com centenas de clientes do banco.
Vi-o preocupado, assim-assim, expectante, desiludido, cético, esperançado... De entre os milhares de notas que fui tirando, sublinhei esta com uma caneta fluorescente: o PIB potencial português é muito mau há muitos anos. O PIB (Produto Interno Bruto) não é mais do que a variável que mede a riqueza produzida pelo país num determinado ano. O PIB potencial permite, por seu turno, avaliar quanto pode a economia crescer sem fazer tocar as campainhas da inflação.
O que Daniel Bessa queria dizer era tão-só isto: aquilo que, durante anos e
apesar das condições favoráveis de que o país beneficiou (fundos comunitários a
entrarem à razão de vários milhões de euros por dia, desemprego controlado, paz
social, estabilidade política, economia mundial a crescer, oportunidades de
negócio para as empresas, etc., etc.), a economia portuguesa cresceu muito,
muito aquém do que deveria ter crescido. Os erros estão documentados e
prolixamente comentados. A lição é clara: não saber gastar é desastroso. E
criminoso, em certos casos.
Depois, veio o que sabemos: a catástrofe, ontem traduzida pela OCDE em
previsões de mais desemprego (16,2% em 2013) e um trambolhão de 3% no
crescimento económico são apenas o mais recente capítulo de um livro de horrores
com infindáveis páginas.
Chegados aqui, a um ponto em que já muitas empresas, muitos setores da nossa
economia e muitas famílias ficaram irremediavelmente pelo caminho, convém talvez
lembrar o que escreveu Miguel de Unamuno para nos situarmos e tentar avançar.
Escreveu o escritor espanhol: "Querer separar a religião da política é uma
loucura tão grande ou maior do que a de querer separar a economia da política".
Foi preciso que países como o nosso acumulassem dívidas e problemas de dimensão gigantesca (por culpa própria, em boa medida), foi preciso que uma montanha de dúvidas se abatessem sobre os decisores para, enfim, concluir o óbvio: separar a economia da política é um erro que se paga caríssimo.
Sobra um problema: acertada que parece estar a questão de usarmos a política
para ajudar a economia, vai a Europa a tempo de recuperar o tempo perdido? Isto
é: que miraculosa estratégia de crescimento nos ajudará a recuperar antes que se
esgotem todas as nossas forças?
Retirada daqui