Todos sabemos que Mário Soares, um dos pais da Democracia
(que há muito se deixou de ver onde está) todo se pela por que lhe dêem palco.
O que ele quer é ribalta, estar na crista da onda. Umas vezes, pelos bons
motivos, outros para cometer dislates, disparates, inesperadas coisas. Basta um
ensejo.
A última e monumental gafe (à boa maneira do PCP) foi dizer a um Diário
que chegou a altura de rasgar o acordo com a Troika, borrifar-se o PS para o
memorando.
Uns fazem-no para nos fazer rir, ele fê-lo
para uma “cantiga do vento que passa”. Para deixar muita gente de nariz no ar,
com preocupações. Nem José Seguro repetiu a asneira, ainda que não ignore que
lhe deu uma boa ajuda e lhe serviu uma almofada de ar. Tão pouco o deputado
Zorrinho, sempre pertinente, se fez eco da boca, bem pelo contrário.
O grande
“animal político” que ele é, com aquela afirmação imprudente, transviada do
habitual bom senso, não fez mais do que prejudicar o país perante a Europa, a
Troika, os mercados. Concorreu para a instabilidade económica. Neste ponto,
colocou a ideologia acima dos interesses do país. Certamente que há algo a
mudar no caminho do emprego e do crescimento económico, é necessário um pacto
mais forte neste campo do que qualquer PEC, mas não é rasgando acordos
assinados que lá vamos, porque não chegamos lá sozinhos, fazendo de parvinhos.
Mário, Soares fazendo o que fez, só porque sentiu um feijão de alegria, com a
vitória de Holland, não fez mais do que agitar os profissionais de greves e de
rua, coisa que não ajuda o país. Esqueceu-se que foi sobretudo o PS que fez do
país um protectorado da Troika, do FMI, do BCE, da Merkle coisa que se
compreende em pessoa da sua idade, mas não se perdoa a quem deveria ser mais
responsável nas dificuldades (para os outros).
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 16 de Maio de 2012