segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

PRINCÍPIO DE PETER E LEI DE MURPHY

Afinal já temos medidas para o crescimento: franchisar os pasteis de nata.

Esta frase chegou-me 6ª feira, por SMS, enviada pelo meu amigo Anibal, empresário metalomecânico com actividade industrial no distrito de Aveiro e uma forte base comercial em Inglaterra.

Li a frase - suficientemente curta para ser um tweet - e logo a identifiquei como a certidão de óbito político de Álvaro. O ridículo mata.

Atingir o Princípio de Peter (num sistema hierárquico, todo o funcionário tende a ser promovido até ao seu nível de incompetencia) equivale a accionar a Lei de Murphy - e tudo quanto pode correr mal começa, inevitavelmente, a correr mal. É o que o que nos está a acontecer com o mega-ministério que devia funcionar como uma dose de Prozac mas não passa de um réplica dos trágicos coros grego e só acentua o ambiente depressivo.

Até foi favorável a minha primeira impressão de um ministro que pedia para o tratarem pelo nome próprio, arregaçava mangas, no sentido literal, e prometia também fazê-lo no sentido figurado: "Chegou a hora de reconstruir Portugal. Só falta a necessária vontade de o levar a cabo".

Um par de meses chegou para confirmar que não basta a vontade. Também é preciso saber. E o Álvaro não sabe, para grande pena e desgraça nossa.

Há cinco anos, a AEP iniciou uma campanha de promoção do consumo dos produtos portugueses, com a marca Compro o que é nosso. Mais de 800 empresas aderiram à iniciativa, cujo sucesso é mensurável pelo crescimento das vendas, que oscilam entre um mínimo de 5% e um máximo de 15%, das 8500 marcas que usam o rótulo garantindo que o valor acrescentado português do produto é superior a 50%.

Ora há cinco anos o nosso Álvaro estava em Vancouver a dar aulas e a questionar-se sobre as razões que levaram Deus a demorar tanto tempo a criar o Universo, o tema abordado na sua obra O diário de Deus criacionista.

Talvez por isso, talvez por se terem esquecido de o avisar da campanha da AEP, talvez por ser distraído e lá em casa o pelouro das compras estar atribuído à sua mulher Isabel, talvez pela conjugação de alguns ou todos estes talvez, o ministro da Economia convenceu-se estar na posse de uma ideia nova e luminosa e em Setembro, deu uma conferência de imprensa, anunciando o lançamento da iniciativa Mais Portugal justificada pela "incipência da aposta na produção nacional".

"A diminuição do défice passa pela diminuição das importações", explicou com o ar impante de quem acabava de inventar a roda.

Com diplomacia e tacto, a AEP fez ver ao ministro que já estava no terreno uma campanha com o mesmo objectivo e que, se ele quisesse, teria todo o gosto em ceder a marca Compro o que é nosso. Álvaro deixou a associação sem resposta. Não tugiu nem mugiu. Foi o primeiro sinal de um terrível erro de casting.

Antes de trocar Vancouver por Lisboa, Álvaro fez uma declaração de amor: "Gosto muito de Portugal e gostaria muito que o meu país tivesse futuro". Neste momento, já não tenho dúvidas. O futuro do nossa pátria será mais sorridente se ele sair da Horta Seca e voltar às salas de aula no Canadá.

Jorge Fiel, aqui