As relações são feitas de concessões e isto de acharmos que o fogo de artifício é eterno não passa de pura ilusão.
Por exemplo, se não fossem os prédios em frente ao meu conseguia ver na perfeição os espectáculos que inundam o céu no 25 de Abril, mal o relógio toca a meia noite.
Mesmo assim, assistindo ao espectáculo com prédios à mistura continuo a achar aquela explosão de luzes arrebatadora, porque mesmo não conseguindo ver todos, consigo ver os maiores e os que sobem mais alto, não é perfeito, mas faz-me sentir feliz.
Como tal acho que tudo é uma questão de pontos de vista. Se para uns o amor só se entende pela paixão, e por isso tanto homens como mulheres saltam de relação em relação à procura de uma resposta rápida, outros há que preferem esconder-se debaixo de uma vitimização profunda para não se comprometerem, e isso leva-me a mais uma história desta vida de saltos altos, partilhada com uma amiga de coração recém-partido.
As bagagens de ambos eram pesadas. Se ela viajava com a mochila da saturação anterior de uma relação sem fim nem continuidade à vista, ele abarcava um ex-casamento e o coração de um cão abandonado numa noite de chuva. Dizem as entendidas (vulgo amigas) que ela não via fogo de artifício, mas as palavras e o carinho que ele lhe fazia sentir, não nas noites frias de inverno, porque era verão, fizeram-na apaixonar-se.
Se no espaço de um ano ela já conhecia os filhos dele, passavam férias juntos, e ele tinha tido autorização para transportar a escova de dentes lá para casa, no espaço de seis meses o cão abandonado mostrou o lado raivoso, de quem já viveu na rua e terminou a relação sem a frontalidade de um adulto, mas com a cobardia de um adolescente, ou seja por email.
Uma semana depois já nem a conhecia quando, por acaso se cruzaram num concerto, pior ainda fingiu que ela nem estava por perto, qual mulher invisível "quenuncavinaminhavidanemmaisgordanemmaismagra".
Rescaldo
Confesso que depois de ver alguém próximo de mim, sobretudo de saltos altos, a sofrer, uma vez mais, por amor, confesso não acreditar na reabilitação do sexo masculino, e sobretudo na dissimulação, que quanto a mim é a característica que mais me assusta na espécie.
Isso e as desculpas esfarrapadas que apresentam para fugir do compromisso: o "não te mereço" é basicamente sinónimo de "não me apetece estar com ninguém, muito menos justificar-me" e o "não consigo fazer ninguém feliz" é tão linear como o "não estou interessado em ti".
Homens esqueçam os 16 anos se já chegaram aos 35 ou 40, e pior, aos 50 ou 60. As miúdas de 20 só acham piada aos homens mais velhos se tiverem algo para exibir às amigas durante vá... um mês, mais do que isso o insólito torna-se ridículo.
Mea Culpa
Como último desabafo, e tomando as dores de outras da mesma espécie, continuo sem entender porque nós, mulheres, continuamos a cair na conversa do cão abandonados. Meninas, lanço o repto: será que ainda não entendemos que os cães de rua vêm normalmente carregados de carraças e pulgas, e que temos trabalho dobrado a desparasitá-los. É certo que são reconhecidos (pelo menos durante uns tempos), mas rapidamente abanam o rabo quando vêem alguém a acenar-lhes com um bife, e nem precisa de ser da melhor qualidade
Sofia Rijo, aqui