terça-feira, 1 de novembro de 2011

SILÊNCIO

O habitual barulho do mundo faz-nos pensar que o silêncio é um abismo escuro e disforme.

Um nada que é preciso preencher. Na nossa sociedade, as palavras chovem... já muito pouco se consegue conter. Parece não haver valor algum no segredo, no pudor, na paciência.

Numa lógica consumista, parece que algo só tem valor se e quando é dito. Guardá-lo para mais tarde, para melhor ocasião ou para outra pessoa é visto como... um disparate de atrasado.

Mas será que há algo que mereça realmente ser expresso? Afinal o sofrimento e o contentamento preferem o puro silêncio da interioridade, onde pacientemente se desenvolvem sem qualquer ruído ou melodia. A dor de uma ausência rivaliza em intensidade com a alegria do amor, mas uma e outra nunca se deixam verdadeiramente dizer nem por palavras, nem por coisa nenhuma.

É preciso ser muito forte para viver em silêncio, numa coragem sublime da esperança, porque se a palavra pronunciada vale menos que a que se conseguiu segurar, ainda mais valor se acha na que a confiança não deixou sequer brotar no interior.

O silêncio é o contraveneno de todos os egoísmos.

Haverá, no entanto, uma medida justa entre a palavra e o silêncio. Pois se há quem se mostre habitualmente calado e passe a vida a condenar, ruidosamente, no seu íntimo, os outros, há também quem fale, mas respeitando o silêncio - porque não diz coisas inúteis. Num caso e noutro, é sempre o silêncio que tem a última palavra.

José Luís Nunes Martins, aqui