domingo, 6 de novembro de 2011

QUERIDO DIÁRIO - X

Hoje fui fazer o meu décimo papanicolau, que é um exame que as mulheres têm que fazer periodicamente depois de terem feito sexo ou depois dos 18, para ver se estão a ficar cancerosas (não tenho bem a certeza se é assim mesmo, mas também não sou médica para poder dar uma explicação mais técnica).

Numa primeira fase dispo-me da cinta pra baixo, deito-se numa maca, abro as pernas e ponho-as nuns ferros frios de modo a poder mantê-las abertas e numa posição jeitosa. Depois vem alguém pessoa que percebe do assunto fazer o exame propriamente dito.

O que essa pessoa faz é, com uma espécie de cotonete, mas bem mais comprido, colhe umas células duma parte do útero, no entanto, e dado que a vagina é a atirar ao estreito e escuro, precisa de duas coisas: uma lanterna para alumiar, e um espéculo para escachar (o espéculo é uma coisa em forma de pila com “bico de pato” que se mete na vagina e que funciona como uma pinça só que ao contrário).

Depois de colhidas as células, pega no tal cotonete e espalha-as numa lâmina de vidro que depois vão para o laboratório para serem analisadas para se ficar a saber se as células estão ou não normais.

A mim não me faz confusão nenhuma fazer o papa (nome carinhoso que dou a este exame); fico sempre em amena cavaqueira com o meu médico durante o processo. Só acho que os espéculos deviam ser previamente aquecidos. São mesmo desconfortáveis. Brrrr, que frio… Ao aspecto da coisa nunca o médico se referiu, mas uma vez disse-me que tinha o útero descaído para a esquerda, e eu pensei logo:
- “Devia ser giro ficar grávida só para a esquerda!!!”

Tenho amigas que consideram essencial fazer uma depilação extensiva antes de fazer o papa, outras que compram lingerie nova. Eu cá não ligo nenhum a essas coisas e não me aborrece por aí alêm fazê-lo (só me custa a parte do tal cotonete, porque sinto-o a esfregar-se todo lá por dentro e faz-me impressão, mas é uma impressão parecida com a de trincar lã, ou pegar em palha de aço; quanto ao resto, não tenho nada de pessoal contra o papa).

Há coisas giras que acontecem durante o papa. Uma vez uma amiga minha foi fazer um papa e partiu-se o espéculo. Ela disse-me que o namorado ficou contente da vida, mas eu se fosse a ela não teria filhos por parto natural. Outra vez, fui fazer o papa e estavam lá alunos estagiários, um grupinho de cinco moços em idade casadoira a olhar para dentro do meu útero. Deu-me alguma vontade de rir, mas não achei conveniente desatar aos risinhos com um cotonete enfiado na vagina…

O que me dá mesmo muita vontade de rir, é o meu médico pedir sempre licença… Mas pronto! A boa educação é uma obrigação de toda a gente e o cavalheirismo cai sempre bem. Afinal eu também digo sempre “com-licença” sempre que entro nas istalações de alguém! E para além disso, as boas maneiras não se aprendem na universidade! Vê-se logo que aquilo foi muito cházinho que o senhor doutor bebeu em menino! Rio-me, mas claro, não respondo. Afinal o que é que havia de dizer:
- "Não não, esteja à vontade, não faça cerimónia!” Achavam bem?

Ah! E faz-me impressão a expressão eufórica do médico quando invariavelmente me diz:
- "Ena, isto está com muito bom aspecto!"

Alma de Deus

(Em reposição: anteriormente publicado no extinto http://blog.oliveiradobairro.net/)