Não se sabe bem qual o fito, mas Portugal está a comportar-se como um bom aluno.
Provavelmente seguirá o mesmo trajecto de um cada vez maior número de cidadãos habilitados com cursos médios e superiores, embora os respectivos horizontes de futuro vagueiem entre coisa nenhuma (o desemprego duradoiro, puro e duro) e a hipótese de emigrar.
A conclusão não é mirrada, pelo contrário. Fundamenta-se, por um lado, nas conclusões professorais retiradas ontem do segundo exame realizado pela troika que nos governa e nos vai passando um chequezinho trimestral à conta do bom comportamento guiado por quem faz de conta ter autonomia, mas só dispõe de margem para ser obediente e, por outro, pelos efeitos directos de uma política de restrições da qual não se vislumbra saída e vai fazendo os portugueses penarem cada vez mais, baixando patamares da qualidade de vida (artificial) a que se habituaram nas últimas décadas.
Por entre muitos defeitos, os representantes do triunvirato formado pelo FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia dispõem de uma virtude - e deve-se-lhes tirar o chapéu: estão a servir de escudo à execução de políticas restritivas há dezenas de anos diagnosticadas como incontornáveis, mas para as quais a eleitoralite aguda dos políticos nacionais levou a melhor sobre a coragem e o bom senso.
Os portugueses não têm hoje um futuro risonho pela frente? É verdade. Devem culpabilizar as decisões draconianas propostas e subscritas no memorando com a troika pela borrasca em que estão metidos e da qual não se sabe bem como sairão? Pois é, Portugal chegou ao actual ponto de mendicidade por obra e graça de quimeras irresponsáveis lançadas e praticadas por quem chegou ao Poder legitimado pelo voto do povo, em sucessivos actos eleitorais.
Na penúria actual, é elementar: o país só pode tornar-se viável pela adopção de comportamentos restritivos. Qualquer merceeiro (profissão em vias de extinção) é capaz de chegar às mesmíssimas conclusões da troika: quem vive acima das suas possibilidades mais tarde ou mais cedo acaba arruinado.
O que está hoje em causa é, por isso, apenas a fórmula de calibragem dos sacrifícios. Idealmente não há como divergir: devem ser repartidos por todos. A célebre equidade, segundo alguns - os que são convictos e os capazes de enviesar a discussão para um âmbito muito solidário, sobretudo se estiverem do lado da barricada dos até agora mais atingidos, os funcionários públicos. E por isso mesmo, indiferentes à velha teoria segundo a qual somos todos iguais mas uns mais iguais do que outros, até nem terão dificuldade em aplaudir a ambas as mãos a última das sugestões dos senhores da troika: os cortes dos salários também no sector privado.
O receituário tem, pois, uma linha pouco original: a da defesa de um mundo onde dos sacrifícios resulte a generalização esmagadora dos pobres e miseráveis. Arrasar todos parece ser o ideal...
Aqui chegados, resta já apenas um ponto de dúvida: afinal o país tem ou não condições para retomar o crescimento, talvez em 2013?
Os convictos de um tal cenário estão mais perto de o ver concretizado. Arrasada a economia nas suas mais variadas vertentes, exaurido o poder de compra e desmanteladas as empresas e os serviços, é mais possível a retoma. A partir do zero é mais fácil crescer...
Fernando Santos, aqui