terça-feira, 8 de novembro de 2011

ERA UMA VEZ...

COELHO DO MATO

Lá no meio do mato africano, o coelho goza de muita fama. É considerado o mais esperto bicho de quatro patas e um dos mais velozes não só a correr como a pensar. Um portento.

Pois aconteceu que um velho leão começou a rondar a toca do coelho, guloso pelos laparotos tenros que, lá dentro, se preparavam para deitar as orelhas de fora. E que ávidos que eles estavam por sair da toca!
- Por enquanto, ainda é cedo - dizia a mãe coelha para os impacientes coelhinhos.

Eles não paravam quietos. Queriam vir para a rua, queriam respirar o fresco da manhã, tasquinhar as ervinhas novas, cabriolar, correr, saltar?
- Por enquanto, ainda é cedo - repetia a coelha, já com o pêlo em pé de tanto os aturar. - E se vocês continuam a portar-se mal, eu chamo o leão.

O velho leão, que isto ouviu, acreditou que era a sério e ficou à espera que o chamassem. Já não tinha forças para grandes caçadas e preferia que o servissem, como nos restaurantes. A sonhar que estava à mesa, adormeceu e continuou a sonhar com coelho guisado.

O pai coelho, que vinha a entrar na toca, estranhou a sentinela à porta e, assim que se viu no meio da sua querida família, segredou para a mulher:
- Temos visitas indesejáveis, mas vamos pô-las a andar. Tu põe as crianças a chorar, num grande berreiro.

Tabefe para a esquerda, tabefe para a direita e os laparotos desataram a chorar.

Tudo para bem deles.

O leão, cá fora, acordou com a berraria. "Devem estar a chamar-me, não tarda", pensou. E pôs-se à escuta.

Mas o que ouviu arrepiou-lhe a juba. Ouviu isto:

Pai Coelho: Porque é que os miúdos estão a chorar?

Mãe Coelha: Naturalmente, têm fome.

Pai Coelho: E tu não lhes deste o resto do fígado de leão que eu trouxe?

Mãe Coelha: Eles dizem que já estão fartos de comer fígado de leão e miolos de leão e bifes de leão. Por isso choram.

Claro que esta conversa em altos gritos era toda combinada entre o coelho e a coelha, mas o velho leão não sabia e assustou-se. Assustou-se e fugiu, com rabo entre as pernas.

"Aquela coisa de me chamarem devia ser uma cilada, uma armadilha", pensava o leão. "Tão cedo não me apanham a escutar às portas".

António Torrado e Cristina Malaquias, aqui