quarta-feira, 2 de novembro de 2011

CONSTRUIR UMA IDENTIDADE

No século XIX pôs-se em marcha um movimento que levaria a uma das maiores revoluções da história da filosofia: o existencialismo.

Afirmou-se a essência individual de todo o ser. No caso do humano, declarou-se que a existência antecede a essência. Que nada somos à partida, e aquilo que vamos sendo depende das nossas decisões livres. Devo realizar-me, fazer-me real.

Sou simpático ou pessimista, não porque nasci assim, mas porque fui tomando decisões que me fizeram sê-lo.

Tudo quanto sou dependeu unicamente de mim, numa liberdade e responsabilidade absolutas.

A vertigem de tamanha incerteza em relação a um futuro assustadoramente em aberto aflige muitos. Mas há quem, apesar de tudo, assuma a missão de ser o próprio a definir a sua vida e assim cumprir voluntariamente a mais bela das tarefas, traçar e cumprir um destino rumo à felicidade.

Nem sempre com sucesso, mas fracassar nas primeiras batalhas resulta muitas das vezes em sábias lições de humildade, que potenciam uma vitória final na guerra entre o que somos e o que devemos ser.

Não há conclusões senão no fim, quando, depois da morte, já sob outras regras, pudermos ver a obra de que fomos autores: um eu, completo.

Acredito que a vida faz sentido, numa verdade tão subjectiva quanto profunda. Acredito que não venho do nada nem vou para o nada. Acredito que Alguém me concedeu pessoalmente o mais valioso dos dons, a vida livre. Acredito que, de forma simples, decisão a decisão, sou eu que vou fazendo o meu caminho, a minha verdade e a minha vida.

José Luís Nunes Martins, aqui