terça-feira, 8 de novembro de 2011

AS ETERNAS VACAS SAGRADAS DO REGIME...

Há coragem para quase tudo. Menos para pôr na ordem os autarcas deste pobre país.

O primeiro-ministro tem toda a razão. Portugal e os portugueses vão empobrecer anos a fio. Não há saída. O Orçamento do Estado para 2012 é bem o espelho dessa realidade.

Subsídios cortados a funcionários públicos e pensionistas, fim das deduções fiscais na educação, na saúde e na habitação, aumento do IVA para muitos produtos e serviços, subida do IMI, do IRC e por aí adiante.

Não há folgas ou alternativas, por muito que o PS ameace chegar a acordo com o governo para só cortar um subsídio aos empregados do Estado e reformados. Se tal acontecer, é sempre de temer o pior vindo de quem vem. É certo e sabido que os socialistas vão tentar aumentar ainda mais os impostos para não cortarem na despesa. Foi sempre assim e não será desta que a fórmula mágica da esquerda irá mudar.

Seja como for, houve coragem para tomar medidas duras do lado da despesa do Estado, muito embora continuem por aparecer os verdadeiros cortes estruturais, os tais que não dependem da sagrada Constituição para serem não temporários mas definitivos. É evidente que os despedimentos na função pública continuam fechados a sete chaves, à espera de melhores dias ou de ordens do estrangeiro, e o fim de institutos, fundações, cargos dirigentes e estruturas intermédias está a ser feito timidamente e sem que o governo saiba exactamente quem sai do Estado ou vai hibernar para o tal quadro de mobilidade, que continua praticamente às moscas, embora toda a gente reconheça que o Estado tem gente a mais ou não tem dinheiro para pagar a tanta. Chegados a este ponto, veja-se o que se passa no tão falado poder local, freguesias e câmaras.

O Memorando da troika é imperativo. É preciso cortar. Pois é. Mas o governo do PSD e do CDS, chegados a este melindroso ponto, encolheu-se e anda por aí a tentar fugir da seringa do FMI, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu. Só com as câmaras, claro, porque nas freguesias a ordem é para reduzir o seu número o mais rapidamente possível, e mesmo aí o processo é superiormente conduzido pelos municípios. É a lei, dizem os do costume.

Quanto às câmaras, a conversa é outra. Não há ordens, não há redução, há apenas umas vagas sugestões. É o velho aparelho autárquico cheio de vacas sagradas a ditar a sua vontade e a impor os seus ditames. O país está falido, as pessoas estão mais pobres, mas os senhores que controlam as máquinas partidárias do PSD e do PS continuam firmes na sua luta para gastarem o dinheiro que já não há para matar a fome e a doença a muita gente.

A cereja em cima da estrumeira aconteceu quinta-feira. Os dirigentes da poderosa Associação Nacional de Municípios aterraram em S. Bento, depois de terem andado a fazer umas queixinhas em Belém, para uma importante reunião com Passos Coelho, Vítor Gaspar, o duro e austero ministro das Finanças, e Miguel Relvas, o ministro da tutela. O resultado não podia ter sido melhor para os Ruas desta terrinha e o pior possível para um governo que começa a perder autoridade.

As câmaras podem manter os actuais níveis de endividamento.

A redução para os 62,5 % já era.

Porca miséria

António Ribeiro Fereira, aqui