Cortar? Sim, não há dinheiro. É nesta base que se está a elaborar o Orçamento do Estado.
Cortar nos gastos do Estado. Essencial. Mas em simultâneo tem de se garantir que o Ministério da Economia "relance a actividade" do país.
Questão: porquê? É mesmo preciso dar-se incentivos às empresas para elas investirem? E se em vez disso a economia toda funcionasse com menos carga fiscal? Ou seja: será que o ministro Álvaro consegue chegar ao ponto - esse sim, revolucionário - de propor a extinção do Ministério da Economia para que a economia funcione melhor?
Não digo que não haja pequenos organismos de regulação (do tipo ASAE) mas pouco mais... Economia: "business", sem ajudas. A União Europeia deveria compreender o que é uma situação de ca-la-mi-da-de. Os milhões e milhões dos fundos comunitários deveriam ajudar directamente o Estado a eliminar dívida e a evitar, em tempo útil, a agonia da economia privada soterrada pela carga fiscal. Fundos comunitários europeus a pagar dívida aos bancos europeus! Lindo. E útil. É proibido? É uma questão de encomendar a alguém uma boa teoria - por exemplo, a "Dinâmica da ajuda europeia transversal à economia em situações de emergência". Até ganhava o Nobel. E o pós-título: "Portugal, a remarkable case study".
A ciência económica baseia-se num conjunto de livros do passado para resolver problemas do futuro. Sendo certo que os problemas do passado eram diferentes. A economia é uma ficção reescrita todos os dias e que necessita de intuição, bom senso e inovação. Só que os líderes não olham para o mundo à sua frente: preferem ouvir os académicos.
Gastar? Um exemplo: o Ministério da Educação não pôde dar 500 euros a cada um dos mil melhores alunos do Secundário do país. No entanto, o Ministério da Economia quer despejar 1,4 milhões de euros no Grande Prémio do Porto. E como não chega, a Câmara do Porto reflecte sobre as vantagens de um prejuízo anual de 700 mil euros com a prova.
Porquê? Porque é bom para o turismo. Qual turismo? E é bom para a imagem do Porto. Que imagem? Quem diz o Grande Prémio do Porto diz o Red Bull em Lisboa, o Rali de Portugal, o Rock in Rio, o ALLgarve... Resultado: o mesmo Estado que não tem 500 mil euros para os melhores estudantes tem muitos milhões para outras coisas. Porquê? Os estudantes são "despesa", os espectáculos, "investimento".
Défice de 5,9% em 2011? Será mesmo? Não. Será de 8% ou mais. Mas é preciso arranjar umas receitas extraordinárias para parecer que é, mesmo que já saibamos que não é. Confuso? Não, é economia. Com um sentido político: vende-se tudo, depressa, em péssimas condições. Quando acordarmos do pesadelo não controlaremos os centros de decisão na energia, a água será ao preço que o "mercado" quiser e os fundos de pensões dos bancos também contribuirão para rebentar ainda mais depressa com a Segurança Social.
Isto é ser-se liberal? Não, é ser-se totó. É não pagar depois a factura. Não por acaso: Cavaco nunca optou pelo trabalho na economia privada, Guterres foi para a ONU, Barroso está em Bruxelas, Santana abrigou-se na Santa Casa da Misericórdia e Sócrates escondeu-se em Paris. Nenhum criou uma empresa. Mas o futuro do país qual é, disseram todos? Criar empresas e emprego...
A saída? A condição-base para Portugal sair desta aflição permanece intacta: a determinação dos portugueses em responder com trabalho e empenho à proposta da troika. Mas precisamos de tempo para que não se gere uma falência descontrolada na economia em 2012. As receitas estão a cair a pique. A continuar assim, acabamos o próximo ano com o desemprego perto dos 20%. E depois falhamos todos - no défice, na capacidade de credibilizar o país junto dos mercados, no pagamento da dívida.
O FMI é um alquimista que experimenta fórmulas macroeconómicas em cima de países e pessoas. Constrói ficções e tende a não querer adaptá-las à realidade. Hey tios: Portugal QUER CUMPRIR! Hello! Está alguém aí? Não rebentem com isto num só ano, ok? Sai-vos mais caro depois.
Daniel Deusdado, aqui