Depois de numerosas partidas falsas dos "especialistas de comunicação" do Governo, que repetidamente fizeram chegar a jornais e TVs a "notícia" de que Vítor Gaspar iria anunciar cortes apocalípticos na tal "gordura" do Estado de que PSD e CDS falavam todos os dias quando estavam na Oposição, chegaram ontem, ainda sob a forma de anúncio, os primeiros dados da tão aguardada lipoaspiração: o Governo extinguirá 1712 cargos dirigentes e intermédios na Administração Pública e 162 organismos (mas como, com a fusão de alguns, se criarão 25 novos, fica o saldo em 137), com tudo tencionando poupar 100 milhões de euros.
É consensual a opinião de que a Administração Pública é hoje um mundo como aquele de "A Lei", de Kafka, de acesso vedado ao cidadão comum que não conheça "alguém" no interior que o guie através dos círculos, vales, fossos e esferas (e cumplicidades, prepotências, concursos por medida, promoções por cartão partidário) desse inferno climatizado. Resta saber o que, independentemente da poupança, mudará com a redução de 6286 para 4574 do número de chefes e chefões e com a extinção de umas tantas direcções-gerais e institutos, provavelmente alguns só já existentes no papel.
É que Sócrates eliminou 1812 cargos dirigentes e 227 organismos (mais 100 cargos e mais 90 organismos do que os anunciados por Passos Coelho) e não consta que qualquer coisa tenha mudado.
Mas a ver vamos, como dizia o cego.
Manuel António Pina, aqui