sábado, 24 de setembro de 2011

CONFISSÕES DE UM CUBANO

Farto dos fins de semana da recruta, cansativos e a saber a pouco, em Dezembro de 1980, quando concluí, em Mafra, o curso de oficial milicianos (especialidade de Anti-Carro e Morteiro Médio) resolvi arriscar quando me pediram para indicar os três destinos de preferência, escrevendo, por esta ordem, Porto, Funchal e Ponta Delgada.

Fui parar à Madeira. Em 1981, vivi em S. Martinho, no quartel do Regimento de Infantaria do Funchal, numa Madeira que, pela mão de Alberto João, estava a atingir a velocidade cruzeiro na viagem que a levaria a 2ª região mais pobre do país a chegar a ser ser a 2º mais rica ica do país.

Durante o meu ano de cubano - informo os mais distraídos que esse é termo carinhoso usado pelos madeirenses para designar os de "Lesboa" (termo genérico que abrange todo o pessoal do "Contenente") - fiz muitos disparates (os próprios da idade e mais alguns) de que me arrependo. Mas não me arrependo nada de me ter voluntariado para ir para o Funchal (com a minha nota de curso era impossível ser colocado no Porto).

Aprendi muitas coisas. A começar por curiosas expressões locais. Da primeira vez, não percebi o que queria o soldado que me pediu autorização para "ir em cima dos pés" (tem a sua lógica, pois agachamo-nos quando temos de satisfazer ao ar livre as nossas necessidades fisiológicas de carácter sólido). E confesso ter temido pela sanidade mental do primeiro madeirense que me disse ter perdido o horário como justificação para o seu atraso (o STCP de lá chama-se Horários do Funchal).

Quem flanou pelo Funchal, comeu lapas grelhadas em Porto Moniz e depois viajou pela estrada marginal da costa norte, passeou pelas levadas, fez praia em Porto Santo, subiu ao pico do Areeiro, se deliciou com uma espetada (acompanhada de milho frito e bolo do caco) no Estreito, visitou o Chão da Lagoa (sem ser no dia em que o Johnnie Walker amplifica os devaneios de Jardim), bebeu uma poncha em Câmara de Lobos, tomou um café no Reid's e desceu até ao Curral das Freiras não pode deixar de se apaixonar pela Madeira.

A Madeira é uma região maravilhosa e quem lá viveu não pode deixar de se sentir também um pouco madeirense.

Na minha qualidade de cubano com uma costela madeirense, sinto uma enorme admiração pelo brutal desenvolvimento que Alberto João conseguiu para a sua terra natal, levando a que o Funchal seja uma duas regiões portuguesas com poder de compra superior à média comunitária.

Esta admiração só aumenta a profundidade da tristeza que sinto quando vejo Jardim manchar com os seus mais recentes actos e palavras uma notável carreira de líder político regional. Quero acreditar que se trata de uma maldição relacionada com nome e origem. Ainda não há muito pouco tempo um outro madeirense com o mesmo apelido borrou um brilhante curriculum no sector financeiro ao não saber atempada pôr um ponto final na carreira.

Jorge Fiel, aqui