O ataque às torres gémeas, também foi uma tragédia portuguesa, porque foi do mundo inteiro.
Nesse dia há dez anos perdeu-se definitivamente a inocência e hoje volvidos estes anos o mundo não está melhor. Será por isso necessário recordar sempre, para que o sangue que correu não tenha sido em vão.
Hoje homenageamos o sangue português que também foi vertido e as lágrimas que ainda são choradas...
Morreram cinco portugueses nos atentados de 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque, uns trabalhavam nas Torres Gémeas, outros estavam “no sítio errado à hora errada” e quase todos perderam a vida a ajudar outras pessoas.
João Aguiar Júnior, na altura com 30 anos, mais conhecido como “JJ”, era há duas semanas vice-presidente da empresa de corretagem e gestão de património onde trabalhava e que funcionava no 87.º andar da torre sul.
Segundo a reconstituição dos acontecimentos, feita pelos familiares no ano da tragédia, mal chegou ao escritório ouviu a explosão na torre vizinha. Telefonou à namorada e mandou todos os colegas sair do escritório. Ele também saiu, mas depois voltou atrás para avisar os colegas de uma outra empresa onde trabalhara antes, também nas torres gémeas, para abandonarem o edifício. Nunca mais foi visto, nem foi encontrado o corpo desaparecido no meio dos escombros...
O engenheiro electrónico na Autoridade Marítima, Carlos da Costa, 41 anos, também morreu a ajudar outros a escapar das torres. Após o primeiro impacto, segundo recordou a supervisora de Carlos da Costa na altura dos acontecimentos, o português foi visto a descer as escadas mas depois percebeu que havia pessoas presas dentro do elevador. Juntamente com dois colegas tentou retirá-las. Não se sabe se conseguiram.
Apesar de não trabalhar nas torres gémeas, António José Carrusca Rodrigues, de 36 anos, e polícia na Autoridade Marítima de Nova Iorque e Nova Jersey foi de imediato para o local. Quando chegou, estava tudo muito confuso. O fumo era cada vez mais intenso e alguém lhe pediu para ir aos pisos subterrâneos buscar máscaras e garrafas de oxigénio. Quando desceu, caiu uma torre.
Naquele dia, o decorador de interiores Manuel da Mota estava no 107º andar da torre norte do WTC para uma reunião com os donos do restaurante “Windows of the World”, que queriam fazer obras de ampliação. Chegou dois minutos antes de o primeiro avião se despenhar 20 pisos abaixo, segundo o relato de um colega que o contactou naquela manhã.
António Augusto Tomé Rocha, 34 anos, era corretor na Cantor Fitzgerald Securities, empresa que ocupava os pisos 101, 103, 104 e 105 da torre norte, a primeira a ser atingida. A Cantor Fitzgerald perdeu todos os 658 funcionários que se encontravam no World Trade Center no dia 11 de Setembro de 2001.
O português trabalhava no piso 105 e já estava no escritório quando o avião chocou com o edifício. Ainda conseguiu telefonar para a mulher Marilyn: “Um avião bateu contra o World Trade Center, há fogo, muito fumo, mas não te assustes...”. A mulher não compreendeu as últimas palavras e deixou de o ouvir.
António Rocha orgulhava-se das suas raízes e do seu português sem sotaque, e estava até ao telefone com Portugal quando a torre em que trabalhava no World Trade Center, em Nova Iorque, foi atingida por um avião a 11 de Setembro de 2001.
“Rochinha”, como era conhecido então um dos mais recentes funcionários da sala de mercados da gestora financeira Cantor Fitzgerald, sempre disse que queria que os filhos tivessem nacionalidade portuguesa, e o seu desejo vai ser agora cumprido pelo pai, Augusto Rocha, e pela viúva, Marilyn. “Ele gostava muito de Portugal, de lá ir, da família, dos primos especialmente, com quem comunicava quase que diariamente”, conta Augusto Rocha, em entrevista à Lusa em Nova Jérsia.
Augusto levava sempre o filho nas deslocações a Portugal, normalmente duas vezes por ano, e tanto Tony como o irmão mais novo Jason, hoje com 31 anos, andaram em escolas portuguesas.
A trabalhar há apenas três meses no topo da torre norte do World Trade Center, Tony chegava ao escritório por volta das 7h00, já final da manhã em Portugal, e era costume contactar o primo Carlos, de Aveiro, como fazia naquele início de dia.
Ethan era um bebé em 2001 e tem hoje dez anos, enquanto a irmã Alyssa, hoje com 13, recorda-se bem do pai e anda com fotografias dele. “Havia algo no sentimento dele... Dizia `quero que [os filhos] sejam portugueses´”, conta Augusto Rocha, também gestor financeiro, hoje reformado e à beira dos 70 anos. “Estamos a requerer a cidadania portuguesa dos meninos porque era realmente um desejo do meu filho. Ele já o dizia na altura”, adianta.
Augusto Rocha foi há duas semanas ao Consulado para iniciar o processo, na mesma altura em que a Marilyn se mudou para uma comunidade no norte do Estado da Florida com os netos e com o novo marido. A viúva casou-se com “um dos grandes amigos de Tony”, recentemente aposentado por razões de saúde. “De repente deixamos de ver com tanta frequência os netos. Vai ser duro porque para nós, para aquilo que o meu filho foi, os netos são algo que sinto que é meu”, conta Augusto.
Dura para a família foi igualmente a venda da casa em East Hannover, Nova Jérsia, localidade onde Tony vivia com a mulher e os filhos e onde também está sepultado. António Rocha recorda com dor: No dia 11, chegou ao escritório mais tarde do que era habitual, já depois de ter recebido pelo filho mais novo, Jason, a notícia de que as torres gémeas tinham sido atacadas. O filho António, tinha deixado no terminal a mensagem do costume para o pai, a quem carinhosamente chamava de “Catalino”.
“Olá Catalino, bom dia. Como sempre, atrasado“, foram as últimas palavras do filho a chegar até si. “Guardei essa mensagem no terminal da Bloomberg muito tempo até sair [do escritório nas Bahamas]. É das coisas que lembro com mais frequência. Não cheguei a falar de volta”, diz com amargura.
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