Os princípios pessoais de Pinto da Costa.
Num país onde tudo se negoceia, onde se trocam influências por baixo das mesas (em almoços e jantares), onde há poderes ocultos que permitem que muitos podres fiquem secretos, Pinto da Costa, por muito mal que se possa dizer do homem e dos seus métodos (e pode!), mostra coerência.
Ao não alinhar no nome preferido do novo Governo para a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), o dinossauro dos nossos dirigentes desportivos não só chamou a atenção para a estranheza que é ver a política meter-se nesta matéria como voltou a colocar os interesses do seu clube acima de tudo. Porque ele é dos que têm memória, outra coisa rara, e não esquece os problemas que o FC Porto teve (possibilidade de exclusão da Liga dos Campeões, perda de pontos...) aquando do consulado de Hermínio Loureiro na Liga. Pinto da Costa tem princípios. São os seus, é verdade. Mas pelo menos são princípios.
A declaração de independência de Portas.
Paulo Portas também mostrou por este dias que defende os interesses do seu partido regionalmente e que o CDS continuará a marcar território, independentemente do compromisso nacional assumido. Ao criticar de forma dura e abrupta o "despesismo" de Alberto João Jardim na Madeira, o líder dos centristas disse claramente que na ilha que há mais de 30 anos é governada pelo PSD o CDS é oposição. E que, nas eleições regionais de 9 de Outubro, pretende aproximar-se ou até ultrapassar os socialistas na votação. O PSD não apreciará muito a atitude - e para o fazer saber a muitos milhões colocou a sua declaração de protesto na boca de Marcelo, via TVI. Mas sem fazer verdadeira mossa a Portas, pois se é verdade que foi deixado fora do Conselho de Estado também ganhou dois lugares em instâncias internacionais, NATO e Conselho da Europa. E até aos próximos actos eleitorais nacionais e relevantes em 2013 (europeias e autárquicas), Portas é claro: não está refém da coligação de Governo.
Os azares de Marinho e Pinto... e do País.
Marinho e Pinto sofre de um problema grave: como fala de tudo e mais um par de botas sempre no mesmo tom - aos gritos e de forma populista -, nas muitas vezes que tem razão as suas palavras perdem-se no rasto do seu ruído. O bastonário, que tão lesto foi em defender a exclusão da profissão os famosos candidatos a juízes do teste do copianço, não podia deixar de aplicar a mesma medida exemplar aos "seus" candidatos a advogados que também foram apanhados a copiar. Como a directora do CEJ acabou por se demitir, desta vez Marinho e Pinto optou por ficar calado. Mas o maior problema disto tudo, infelizmente, é resumirmos esta discussão ao bastonário dos Advogados. Porque grave grave é o que estes dois exemplos mostram do País que temos e a quem entregamos a nossa Justiça.
A solidariedade vs a caridade.
No actual estado em que o País se encontra, o plano de emergência social que o Governo tem em marcha - passes para pobres, tarifas de gás e luz para famílias carenciadas, rendas baixas em casas devolvidas aos bancos, banco de medicamentos para idosos, etc. - não só faz todo o sentido como é fundamental. Mas não se distribuem restos e migalhas, porque a dignidade humana deve ser prioritária, criam-se mecanismo s de justiça social, com controlo e rigor. Essa deve ser a partir de agora a maior preocupação de Pedro Mota Soares e restantes ministros envolvidos. Porque solidariedade e caridade são coisas diferentes.
O espião que felizmente não é jornalista.
Felizmente que Jorge Silva Carvalho não é jornalista. Se o fosse, teríamos seguramente toda a classe, e a habitual onda de comentadores e bloguistas, a questionar a divulgação de um mail , este, sim, realmente pessoal e não uma ordem de serviço. Como se trata de um ex-chefe dos serviços secretos, já não há quem conteste ou veja problemas, olhando para o que é realmente essencial: o interesse público da matéria divulgada, na forma e no conteúdo, tal como acontecia no caso as alegadas escutas de S. Bento a Belém, independentemente dos protagonistas (que são sempre notícia se forem um ex-espião ou um empresário, mas jamais se envolverem jornalistas). E o que volta a ser relevante e deve ser devida e rapidamente explicado, no Parlamento e na Justiça, é todo o rol de suspeitas muito graves e outras promiscuidades várias, que minam as relações entre os nossos órgãos de soberania e, por arrasto, a confiança de todos os cidadãos.
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O título mais claro sobre o BPN foi do El País. Dizia: "Portugal privatiza um banco por 40 milhões, depois de o sanear por 2,4 mil milhões." E o artigo relembrava ainda o essencial, que o caso era de polícia, mas ninguém estava preso de facto. Isto é o essencial deste triste caso.