A Europa é uma ditadura. Quem pode decidir é só o chanceler da Alemanha, o presidente da França e umas corporações.
Portugal vive numa democracia relativamente boa: há eleições, elas decorrem livremente, há imprensa não controlada pelo governo, ninguém é preso por divulgar opiniões contrárias à "situação".
Claro que o novo governo já iniciou o assalto partidário aos bons cargos que o Estado proporciona, com o aumento do número dos gestores da Caixa Geral de Depósitos, irmãmente repartidos entre os "conselheiros" do PSD e os "conselheiros" do CDS.
É óbvio que isso não ajuda a distinguir este governo um avo do seu antecessor e contribui em grande escala para a percepção geral de que o que todos querem é, nas imortais palavras do primeiro- -ministro, "pote". Mas isso não parece preocupar grandemente os outrora moralistas de direita que o são sempre até à entrada no poder.
Não, não é da democracia portuguesa que estamos a falar. A democracia portuguesa até seria uma coisa razoável, se não sofresse de uma enorme doença: não servir para nada, não governar nada, não mandar em nada e em tudo o que é fundamental depender de ordens provenientes do exterior, a "Europa".
Esta é a questão verdadeiramente séria que se está a colocar a qualquer país europeu fora do eixo franco-alemão, que não seja o Reino Unido que manteve a sua libra esterlina. A Europa é, efectivamente, uma ditadura. Quem tem poderes para decidir é o chanceler da Alemanha, com alguma participação do presidente da França e o auxílio e o conselho de algumas corporações, como a Comissão Europeia, o BCE, etc.
Como o chanceler da Alemanha (presentemente a incrível senhora Merkel, mas poderá ser qualquer um) é eleito pelo povo alemão, só a ele tem que prestar contas. Se a crise do euro estivesse a ser gerida por um presidente da Europa eleito pelos europeus, à semelhança do presidente dos EUA e com congressos de representantes à imagem dos States, certamente que não teríamos vivido este ano penoso de desestruturação europeia que a nós, Portugal, custou e ainda vai custar mais horrores.
Por outras palavras: se a senhora Merkel não tivesse de prestar contas apenas aos cidadãos da Alemanha, mas a todos os europeus, seria forçoso trabalhar para todos.
Como o chanceler da Alemanha (presentemente a incrível senhora Merkel, mas poderá ser qualquer um) é eleito pelo povo alemão, só a ele tem que prestar contas. Se a crise do euro estivesse a ser gerida por um presidente da Europa eleito pelos europeus, à semelhança do presidente dos EUA e com congressos de representantes à imagem dos States, certamente que não teríamos vivido este ano penoso de desestruturação europeia que a nós, Portugal, custou e ainda vai custar mais horrores.
Por outras palavras: se a senhora Merkel não tivesse de prestar contas apenas aos cidadãos da Alemanha, mas a todos os europeus, seria forçoso trabalhar para todos.
O problema é que esta ditadura em que efectivamente vivemos (a Alemanha manda, nós obedecemos sem pestanejar muito) é, em parte, culpa dos povos europeus - de nós todos que usamos a bandeira das estrelinhas.
A Europa foi crescendo nas costas dos cidadãos de propósito - porque os grandes líderes do passado sabiam que, fora os fundos estruturais, os europeus horrorizavam-se com a ideia federalista. E chegámos aqui: como os europeus temeram a democracia, instalou-se uma ditadura. O resultado está aí.
Ana Sá Lopes, aqui