Nem tudo é negativo neste reino de antigos desmandos, muita corrupção e jogos de interesses, avalizados por políticos aldrabões ou sem escrúpulos.
Se a agência Moody’s nos pôs no lixo, agora os Bancos passaram o teste de stress. Isso vem dar confiança aos que, fruto das suas poupanças, têm a coragem de fazer um pé-de-meia para o futuro.
Sem uma Banca forte, ainda que saibamos que também concorreu para a crise, ao incentivar o crédito a gente séria, mas também a todo o bicho-careta, o país não consegue progredir.
Não percebemos (ou melhor, até sabemos) por que a Esquerda, arautos e corifeus, se abespinham tanto contra a Banca. Nem sequer as pensam. Quando os bancos estiverem descapitalizados, os dinheiros dos clientes correm sérios riscos. Não vêem que esse compulsivo ódio à Banca não ajuda a legião dos trabalhadores e gente menos favorecida? Fazem de ceguinhos em nome de ideologias pouco realistas que não dão pão nem vinho.
Se a Banca tem culpas no cartório da crise, e tem, temos de gritar que a culpa também é de muitos de nós que, anestesiados pelo sonho da Europa, adormecemos, durante muitos anos. Trabalhámos abaixo do suor, quando só o trabalho gera riqueza. E grave foi os governos criarem toda uma legião da mão estendida ao subsídio e pagarem pipas de massa a quem nada faz. Grave foi abandonar a terra e o mar.
Correu durante todo este tempo um slogan bonito, mas um erro grave: consumir, consumir, em vez daquele que nossos pais (também geração à rasca) seguiam: poupar, poupar. Ficámos demasiado vulneráveis. O cancro foi tomando conta do corpo e deu em hemorragia que agora muito nos dói.
Temos de nos culpar a nós próprios, ao estupor da crise, ao raio do anterior governo, que só tinha olhos para as lantejoulas e para o show-off. Estamos agora a começar a pagar a conta que só será saldada com muito trabalho. Todos podemos concorrer para o milagre. Embora difícil, ainda assim é possível.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 28 de Julho de 2011
