Estou careca de saber que a Isabel não vai levar nada a bem este título.
Para amaciar o meu regresso a casa (hoje, como estou de fecho, vai ser tarde, já na terça-feira, o que acaba por ser uma vantagem, pode ser que ela já esteja a dormir), prudentemente resolvi substituir a minha foto com 54 anos por uma outra do tempo em que estava a deixar de ser analfabeto na escola da Junta do Bonfim, no Campo 24 de Agosto.
Nesta Europa da crise e da abundância, o único factor que se está a tornar escasso é a atenção humana. Está tudo estudado. No máximo, as pessoas demoram 15 a 20 minutos por dia a ler o seu jornal. Para ter uma boa hipótese de ser lido por um número razoável (5%?) do milhão de leitores JN, achei melhor apetrechar-me com um título sexy e uma fotografia apelativa. A vida é mesmo assim. Para sobreviver nesta selva da palavra escrita, um homem tem de dar nas vistas - não é por os alegados autores serem Saramagos ou Lobo Antunes que os livros assinados por figuras televisivas entram directo no top de vendas FNAC e lá se eternizam...
Ou seja, não é verdade que tenha uma namorada nova, mas estou a viver uma sensação que é prima remota desse magnífico estado de transporte.
E o objecto deste enamoramento não é a Scarlett Johansson mas antes o Governo Passos Coelho, que, salvaguardadas as devidas distâncias, é tão novo nas suas quase sete semanas de vida como era a actual actriz fetiche de Woody Allen quando me devastou no imperdível Lost in Translation.
Ao tomar conhecimento dos tiques, toques e idiossincrasias dos novos governantes sinto-me um adolescente a descobrir os cheiros, manias, virtudes e defeitos de uma namorada nova.
Estou convencido de que é genuíno o tique Massamá/muamba do carácter frugal de um primeiro-ministro casado com uma fisioterapeuta guineense de anca larga que não se importa de desmentir o "Povo Livre" no lamentável episódio do "desvio colossal" e faz questão em viajar em económica nos voos europeus.
Não consigo disfarçar a minha admiração por um ministro da Economia que teima em visitar empresas, pede para lhe chamarem Álvaro e não renega as opiniões desassombradas que deixou escritas em artigos, livros e blogues.
Aprecio muito o sentido de humor Monty Python de um ministro das Finanças que expressa pausadamente um raciocínio fluído - e usa sempre fatos dois números acima do seu e umas olheiras que só podem ser um certificado de stakhanovismo (na dúvida sobre o significado desta expressão, faça o favor de consultar o Google).
Nunca pediria namoro a Assunção Cristas, mas estou em crer que ela deve ser uma óptima dona de casa, uma rapariga poupada, adequada aos novos e rigorosos tempos em que todos tentamos sobreviver.
Tenho dito!
Jorge Fiel, aqui