Há males que vêm por bem. Ora foi isso que aconteceu com a eleição do presidente da Assembleia da República que começou com uma derrota de quem cedo se convenceu que ou era a segunda figura Estado ou nada.
Passos Coelho manteve-se coerente. Portas não abriu outra porta, quando suposto é que, feita a coligação, seria de ultrapassar estas divergências. Por outro lado, Fernando Nobre não arredou o pé do sonho.
Teimoso, nem a primeira votação lhe deu para pensar duas vezes, salvar a face e evitar problemas ao chefe do governo. Sujeitou-se à humilhação. Não sabe que o pé nunca pode ir além do chinelo. Acabou por ver-se que não era a pessoa indicada e desejada.
Só ele não quis ver e logo alguns comentadores se apressaram a falar da primeira derrota de Passos Coelho. Não era realmente um bom indicador. Só que P. Coelho, em poucas horas, com a agilidade que se exige a um chefe de governo, deu a volta por cima. Convidou Assunção Esteves, mais uma boa surpresa, que arrecadou a margem necessária de votos para ser eleita, com o elogio e aceitação gerais, o que logo veio fazer esquecer Fernando Nobre e o desaire de Coelho.
A mulher eleita, que ficará na história por ser a primeira presidente da Assembleia da República logo mostrou no seu brilhante discurso que tem estaleca para a cadeira que assumiu. É inteligente, culta, independente, aberta ao diálogo, segundo Marcelo R. Sousa. Além de tudo isso, é uma lufada de ar fresco na casa que devia ser de democracia íntegra e tem sido nos últimos tempos casa de muita corrupção e defesa de interesses, segundo Marinho Pinto ou Paulo Morais.
Mandato difícil, espera-se que devolva a dignidade ao Parlamento, moralizando certos (maus) costumes como as viagens dos deputados em classe executiva. Passos Coelho já deu o exemplo. Algo está a mudar.
O saldo de oito dias é positivo.
Armor Pires Mota, no 'Jornal da Bairrada' de 30 de Junho de 2011.