sábado, 4 de junho de 2011

A ALTERNATIVA QUE VAI A VOTOS TEM UM NOME: RENEGOCIAÇÃO

Nuns textos falo da única hipótese de respirarmos: renegociar a dívida.

Nos outros faço o diagnóstico e falo do que nos espera se seguirmos a receita criminosa da troika.

Mas há uma incomunicabilidade que leva a que nos segundos muita gente ignore o que escrevi nos primeiros e me pergunte: e soluções?

A renegociação não é a solução para a crise estrutural com que temos de lidar. Mas é a única saída que permite fazer a escolhas que dão espaço ao crescimento económico para pagarmos o que devemos. Quando se diz "renegociação da dívida" parece que se fala estrangeiro. Não cabe na narrativa sacrificial que foi imposta ao País por quem tenciona ganhar alguma coisa com a crise no processo de privatização do Estado Social. E as pessoas compraram a inevitabilidade de, no meio disto, serem saqueadas.

No entanto, a inevitabilidade da renegociação fez, nesta campanha, o seu caminho. Responsáveis do PSD e do CDS já a admitem. Extraordinário é que, sendo inevitável, não seja o centro do debate. E ainda mais que esta condição para qualquer solução seja adiada para quando já servir de muito pouco. Quando estivermos em bancarrota já não renegociamos nada. Limitamo-nos a não pagar. E aí, aqueles que, como Sócrates, disseram que renegociar é ser caloteiro terão de explicar o seu calote.

Ainda assim, o que no início era uma heresia já é aceite por dirigentes da troika nacional. É um avanço e uma vitória dos dois partidos que colocaram o tema tabu no debate político nacional: Bloco de Esquerda e PCP. Os dois partidos que, depois de vários erros de avaliação sobre o estado de espírito dos portugueses - mais tomados pelo medo do que pela revolta -, fizeram as únicas campanhas que se concentraram em temas relevantes para o País. E que tiveram a coragem de defender uma alternativa.

Essa alternativa terá de ser coordenada com os restantes países vítimas de um ataque sem precedentes das instituições financeiras. Mas para que essa coordenação seja possível é preciso que a sua urgência seja aceite pela classe política de cada um deles. O meu voto, no próximo domingo, não será apenas contra a receita sociopata da troika, apesar disso não ser, como escrevi ontem , um pormenor. Será o voto pela única solução possível.

Como não tenho o hábito de falar em código, digo-o de forma clara: votar no Bloco de Esquerda ou na CDU é a melhor forma de enviar essa mensagem. No meu caso, mesmo irritado com erros de palmatória cometidos por bloquistas e comunistas no último ano, voto no que me está politicamente mais próximo.

Assumo esta clivagem clara, a que nenhum partido pode fugir: quem acredita na solução da troika terá de responder por ela. Mas quem está contra ela também terá de estar à altura dos votos que receber: fazer todos os compromissos para garantir uma renegociação urgente da dívida e estar disponível para, depois dela, assumir a responsabilidade de ajudar a reconstruir este País. O meu voto é crítico e será vigilante. Mas, nestas eleições, mais do que em qualquer outra, não poderia ser diferente.

Daniel Oliveira, aqui