Entre o "eu avisei-vos" de José Sócrates e o "não tinha outro remédio" de Pedro Passos Coelho, vai a distância de uns malditos caracteres: FEEF (Fundo Europeu de Estabilização Financeira) e FMI (Fundo Monetário Internacional).
O líder do Governo foi encurralado pelas evidências de uma realidade que só ele não queria constatar, no que fez lembrar um soldadinho de papel enfrentando uma legião de poderosas ventoinhas; o líder da Oposição perdeu-se no intervalo de tempo que julgava necessário para se apresentar como uma alternativa credível, adiando um programa eleitoral concreto e investindo num arrazoado de tiradas sobre a necessidade ou não de aumentar o IVA.
A partir de anteontem, José Sócrates e Passos Coelho já eram.
E isso, para mim, é das lições mais relevantes a tirar deste turbilhão de acontecimentos. A inevitabilidade de uma ajuda externa - e nisso Sócrates tem toda a razão - não é mais do que a assunção da incapacidade de a classe política em lidar com os problemas do país. É verdade que os especuladores e as agências de rating agiram e agem como chacais esfomeados (basta vê-los a espumar enquanto fitam a Espanha,nova potencial presa), mas a sorte que agora nos calha não constitui propriamente surpresa para ninguém. Parafraseando uma personagem mediática, "estava escrito nas estrelas" que iríamos precisar de ajuda externa. E a verdade é que nos pusemos a jeito. Durante tempo de mais.
A crise política em que nos mergulharam (aqueles que não queriam eleições e aqueles que contavam os dias até à sua convocação) redundou nisto: o próximo primeiro-ministro de Portugal terá o mesmo peso decisório de uma marioneta na mão do manipulador. Serão os peritos de Bruxelas e do FMI a ditar as regras.
Os programas eleitorais de Sócrates e Passos Coelho valerão como intenções. E é bom que, durante a campanha que se avizinha, tenham, ao menos, a consciência de não sucumbir ao vício de prometer. Porque já ninguém, ou quase ninguém, vai acreditar.
O tempo veio provar outra coisa: Cavaco Silva montou um terramoto com o seu discurso de tomada de posse, mas depois deixou-se adormecer quando as ondas do tsunami começaram a atingir a costa lusitana. O presidente da República não podia não ter feito nada. Não depois do que disse, não depois do estado a que isto chegou. E o presidente, sobretudo, não pode falar ao país através do Facebook. É assim que se serve os interesses de Portugal? Promovendo os "gosto" ou "não gosto?"
Pedro Ivo Carvalho, aqui