domingo, 20 de março de 2011

UNANIMIDADE DO PS CADA VEZ MAIS APARENTE

A aparente unanimidade no PS é cada vez mais aparente.

Manuel Maria Carrilho junta-se, em declarações ao PÚBLICO, à ideia defendida por Medeiros Ferreira, em entrevista ao i, de que, no caso de haver eleições antecipadas, José Sócrates deve ser substituído no cargo de secretário-geral, pelo que a eleição do líder do PS, marcada para 25 e 26 de Março, deve ser adiada.

Frisando que fala na base de cenários e atendendo à votação do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) na Assembleia da República, que pode abrir caminho a "uma situação de crise aguda", Carrilho sustenta que, a partir desse momento, "só pode haver iniciativa política por parte de dois agentes, o Presidente da República, que não tem dado sinais de ir agir, e o PS" para que haja "um acordo e a criação de uma situação maioritária". Ora, na sua opinião, "não é verosímil que quem conduziu à crise tenha capacidade para gerir um acordo". Logo, o secretário-geral do PS deve ser substituído.

Por outro lado, sustenta que, "no caso de haver eleições antecipadas, dá-se uma sobreposição de datas com a eleição interna e o congresso do PS" e afirma: "Estou de acordo com Medeiros Ferreira, para mais porque não tem havido eco de que haja debate dentro do PS, nem da campanha. Sou a favor de que fosse adiado o processo um mês. Se houver crise, o PS deve ter um período de reflexão, não é tocar trombetas à reeleição do secretário-geral, como se não se passasse nada." Sobre a manutenção de Sócrates à frente do PS, Carrilho manifesta o seu apoio à tese de Medeiros Ferreira e explica que "não faz sentido ser o mesmo candidato a primeiro-ministro", isto porque uma eleição "não pode ser um tira-teimas". E sublinha que "Sócrates devia dar lugar a uma solução, com desprendimento, devia ser ele a abrir a porta para a reflexão do partido."

Carrilho só não acompanha Medeiros Ferreira na defesa de que António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, deve substituir Sócrates à frente do PS. Considerando que o PS não tem "número dois", o antigo ministro da Cultura de António Guterres defende que "no PS há órgãos e há militantes e isso passa por decisões dos militantes e por decisões colectivas", pelo que não quer avançar agora com nomes.

Medeiros Ferreira, antigo deputado e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do primeiro Governo de Mário Soares, defendeu em entrevista ao i que as eleições internas e o congresso do PS devem ser adiadas. Sobre a substituição de Sócrates, sustenta: "Há soluções políticas e soluções institucionais nestes casos. Uma solução institucional seria alguém do Governo que se tivesse distinguido por uma boa prestação política. Outra solução institucional é o presidente da Assembleia da República. Depois há soluções políticas. Toda a gente fala em António Costa, que é uma solução política e até quase institucional, porque aparece informalmente como o "número dois" do PS."

Reagindo ao desafio que Medeiros Ferreira lhe lançou, António Costa, que se encontrava ontem em Lanzarote, para a inauguração da Casa e da Biblioteca de José Saramago, declarou à agência Lusa: "É sabido que tenho uma tarefa muito pesada até 2013, estou muito satisfeito com o que estou a fazer e é nisso que estou 100 por cento concentrado." E acrescentou: "Cada um deve estar concentrado naquilo que está a fazer: o primeiro-ministro em ser primeiro-ministro, o líder da oposição em ser líder da oposição, o ministro das Finanças em ser ministro das Finanças, e em resolvermos os problemas do país. É isso que é essencial fazermos, cada um a cumprir a sua missão. Eu dedicar-me-ei a cumprir a minha."

São José Almeida, aqui