Os condomínios fechados só isolam do exterior até que alguém demonstra que afinal são mais abertos do que se pensava.
A crise não é de agora, mas agora é que os efeitos chegam a nós, a doer. É novidade que o Mundo está cheio de problemas de insustentabilidade global? É surpresa que há gente em enormes dificuldades, até há pouco demasiado longe para verdadeiramente nos incomodar? Os portugueses não são uma massa informe e uniforme, não defendem todos a mesma coisa e alguns nem defendem coisa nenhuma.
Mas é evidente um sentimento generalizado de insatisfação, de pré-revolta, de revolução a caminho. Erram as críticas de que quem protesta não tem propostas construtivas para apresentar, pois não são as pessoas individualmente que têm de encontrar soluções para a actuação da Administração Pública nem redigir leis simples e sensatas para permitirem uma vida em sociedade. São os partidos.
Não se condenem os partidos por aproveitarem a onda de indignação. Pelo contrário, é obrigação deles fazerem-no, indo de encontro às bases que é suposto representarem. Os partidos são uma ferramenta da democracia e reflectem a qualidade do povo. Se agora colectivamente nos queixamos, o que fizemos nas últimas eleições? E nas anteriores? E nas anteriores a essas? Aguentamos hoje o resultado de más escolhas, mas também da incapacidade do país gerar melhores candidatos. Apesar disso ainda há quem vá votar neste PS de Sócrates ou se contente com um presidente da República que, sendo parte do sistema há longos anos, finge estar acima dele. Tal como um alcoólico precisa de reconhecer que tem um problema para o poder ultrapassar, também neste sábado, dia 12, muitos darão o primeiro passo de um caminho de mudança. Depois, cada um seguirá na sua direcção, certa ou errada, mas parados não ficaremos.
Tiago Azevedo Fernandes, aqui