quinta-feira, 17 de março de 2011

DESCOBERTO O 'ANGOLATITAN', O PRIMEIRO DINOSSAURO ANGOLANO

  Nova espécie de dinossauro em Angola reconhecida pela ciência
Foi descoberto em 2005 e é o nono baptismo do paleontólogo português Octávio Mateus.

A comunidade internacional reconhece esta semana a descoberta de uma nova espécie de dinossauros em Angola. Foi o primeiro gigante do passado descoberto no país, em 2005, pelo paleontólogo Octávio Mateus, responsável pelo museu da Lourinhã e investigador da Universidade Nova de Lisboa.

Recebeu o nome de Angolatitan adamastor e é mais uma referência a Portugal nos arquivos da paleontologia. Octávio Mateus diz que a escolha do cognome Adamastor para o saurópode, que terá habitado a África subsariana há 90 milhões de anos, é uma homenagem às expedições portuguesas na costa africana.

25 de Maio de 2005.
"Dia de África", recordou ao i Octávio Mateus. Era a primeira expedição do paleontólogo em Angola e andava a 70 quilómetros a norte de Luanda. Sozinho, apesar de os trabalhos em Angola terem a colaboração de investigadores de Angola, Estados Unidos, Holanda e Suécia, descobriu no mesmo dia a tartaruga Angolachelys - também uma espécie nova para a ciência - e o fóssil do herbívoro, com 13 metros de comprimento.

Além de ser a primeira evidência de um dinossauro em Angola - e o gatilho para cinco anos de escavações, de onde já saíram boas surpresas com um novo mosassauro, o Prognathodon kianda, ou um mosassauro raro, chamado Globidens - o saurópode angolano foi uma surpresa. Agora reconhecido pelos pares com uma publicação de um artigo nos Anais da Academia de Ciências Brasileira, editados hoje, o Angolatitan adamastor é o primeiro exemplar do Cretácico Superior na África subsariana, na altura habitada sobretudo por titanossauros, das últimas espécies conhecidas antes da extinção dos dinossauros, há 65 milhões de anos, mais adaptados às condições áridas.

"Em Portugal não temos dinossauros da mesma idade", explicou ao i Octávio Mateus. Mas a riqueza é grande: os fósseis nacionais vão desde o Jurássico, há 150 milhões de anos - como é o caso dos habitantes mais famosos da Lourinhã, Lourinhanosaurus e Miragaia longicollum - a outras espécies do Cretácico Terminal, há 66 milhões de anos.

Octávio Mateus acredita que muitas das futuras descobertas da paleontologia vão passar por África. "Em média, tem sido descoberta uma nova espécie por expedição", diz, uma riqueza "inigualável no que respeita a vertebrados marinhos do Cretácico". Para marcar a descoberta, a equipa construiu e ofereceu uma réplica do Angolatitan adamastor ao Ministério angolano da Cultura.

O Projecto PaleoAngola, um programa científico internacional fundado por Octávio Mateus em colaboração com investigadores da Universidade Metodista do Sul, nos EUA, Museu de História Natural de Maastricht e Universidade Privada de Angola, nunca teve financiamento português, lamentou ao i o investigador numa entrevista em Fevereiro. Os investigadores esperam fazer uma nova expedição no Verão, "se houver financiamento", disse ao i Octávio Mateus, que defende que a ciência portuguesa deveria envolver-se mais em parcerias com os PALOP.

No ano passado, um investigador de Bristol atribuiu 14 dinossauros à ciência portuguesa. O primeiro foi o Lusitanosaurus liassicus, baptizado em 1991, mas rejeitado como nova espécie pela comunidade científica. Desde 2003, Octávio Mateus tem dado um novo fôlego à paleontologia lusa, admitiu na altura ao i Mike Benton. O Angolatitan é o nono baptismo do investigador.

Marta F. Reis, aqui