Hoje em dia, mais do que nunca, uma loja de flores é dinheiro-em-caixa.
A avaliar pelo entra-e-sai, (ele é funerais, batizados, casamentos, comunhões, empresas, etc., etc., etc. …) há sempre muita clientela a comprar flores, e se tivermos em conta os preços a que estão, é fácil de concluir que é mesmo dinheiro-em-caixa!
Mas hoje, não é à clientela no geral que me quero referir; só aos homens, essa específica fatia da clientela das floristas. Reparem com atenção quando saem com os seus ramos de flores (gostam muito de oferecer flores, os cavalheiros!!!), com alguma timidez, embaraço, sem jeito, a atravessar a rua em passo de corrida, a olhar para um lado e oara o outro, com os ramos em riste, com receio que “alguém” os veja, e quase a pedir a Deus queira que ninguém os aborde.
Hoje fui à florista buscar um ramo de flores para depositar no túmulo do Esperançoso de Oliveira; e quando entrava na loja, saía um homem com um valentíssimo ramo de flores (rosas, cor-de-sangue, pois claro!!!).
Quase que poderia dizer que era um homem que sorria, um sorriso apertado e envergonhado, é certo, indecifrável mesmo, mas era efectivamente um sorriso; como se o acto de transportar aquele ramo (de rosas, cor-de-sangue, pois claro!!!), não estivesse na sua natureza, receoso que alguém lhe antecipasse o pensamento, lhe descobrisse a intenção, lhe capturasse o momento, lhe alcançasse o brilhozinho do olhar e, temor dos temores, lhe adivinhasse o destino do ramo de flores (de rosas, cor-de-sangue, pois claro!!!).
No entanto, aquele homem sem jeito, e visivelmente sem hábitos de cliente de florista, sorria.
Aquelas flores tinham uma história, talvez fossem o início ou, quem sabe, mais um momento de uma história.
Um romance, pensei logo: um ramo de flores para fazer alguém feliz.
E quando o homem se cruzou comigo, percebi que aquele momento também era de felicidade.
E dou comigo a pensar: onde estarão agora, neste exacto momento, aquelas rosas, cor-de-sangue?
Momentaneamente abandonadas, por certo, sobre as franjas de um qualquer tapete; mas não esquecidas, espero.
Como lhes compete, serão colocadas numa jarra com água fresca que lhes alimente a seiva.
Logo que cheguem a casa de quem as recebeu.
Alma de Deus
