Com os seus 16 anos e o cabelo à Playmobil, Justin Bieber podia ser um miúdo como outro qualquer. Mas é um fenómeno que factura milhões. "Never Say Never" estreou agora nos EUA.
Scooter Braun, o homem de 29 anos de barba rasa que é, oficialmente, o manager de Justin Bieber e, não oficialmente, o baby-sitter das suas legiões de admiradores, estava desta vez com alguns problemas em controlar os fãs.
Em frente a uma sala lotada com adolescentes e pré-adolescentes no Regal E-Walk Stadium de 13 salas na Times Square, em Nova Iorque, Braun tenta aconselhá-los ou ameaçá-los a ocuparem rapidamente os seus lugares. Se não o fizerem, avisa, o visionamento de "Justin Bieber: Never Say Never", um documentário em 3D de um concerto (com estreia prevista para 24 de Março em Portugal), não começa e a sensação de 16 anos da música pop de cabelo escorrido que dá nome ao filme não se lhes juntaria na sala.
"Se passarem o filme todo a virar-se para olhar para o Justin, ele vai passar-se", diz Braun. "Prometo que se olharem para o ecrã vão vê-lo durante todo o tempo."
Bieber, que vendeu mais de 4,5 milhões de cópias dos seus álbuns "My World", "My World 2.0" e "My World Acoustic" e mais de 10 milhões de singles descarregados digitalmente, faz por fim uma breve aparição antes do filme. Vestido com roupa preta D&G e laço púrpura, lança um rápido "Tudo bem?" às massas deslumbradas e histéricas e diz: "Só quero que este filme comece."
Fiel à promessa de Braun, Bieber é visível durante toda a noite, em encarnações no ecrã que por vezes são tão reveladoras como as diferentes versões dele que apareceram na sala de cinema.
Em "Never Say Never", realizado por John M. Chu e que a Paramount estreou a semana passada nos Estados Unidos, Bieber aparece no decurso da sua recente digressão norte-americana a cantar hits inócuos como "Baby" e "One Less Lonely Girl" em interpretações 3D em que parece estender a mão directamente para si ou para a sua filha.
No cinema, como Elvis Os filmes caseiros, filmagens documentais e clips do YouTube que completam o filme revelam facetas mais íntimas de Bieber: o bebé criado por uma mãe adolescente em Stratford, Ontário; a criança de cinco ou seis anos cujo sentido inato de percussão se revela num tambor oferecido pelo Natal; o miúdo de 12 anos a comandar multidões enquanto percorre a cidade com a sua guitarra e a sua voz ansiosa de rapaz; e o adolescente de 16 anos que viaja através dos Estados Unidos no centro de um séquito de adultos.
Na passadeira vermelha estendida no estreito hall do cinema antes do visionamento do filme, Bieber exibe o mesmo estilo de pose sobrenatural que mostrará o resto da semana em programas de comédia como "Daily Show with Jon Stewart" e "Saturday Night Live". Enfrentando um pelotão de paparazzi, olha para as câmaras uma a uma, abanando o seu famoso cabelo e piscando os olhos rapidamente como um robô.
Porém, quando se senta ao lado de Chu numa sala vazia adjacente ao cinema onde será exibido "Never Say Never", parece o típico adolescente inquieto à beira dos 17 anos. Brinca com o seu iPhone, tira as lentes aos óculos 3D e responde ocasionalmente às perguntas do jornalista. "Já viu o filme?", quer saber. "E gostou?"
Chu, o realizador de 31 anos que dirigiu os filmes da série "Step Up", descreve o seu primeiro encontro com o assunto de "Never Say Never", durante a digressão de Verão de Bieber.
"Justin não fazia ideia de quem eu era", conta Chu. "Eu entrei e disse-lhe ''estou a fazer o teu filme''. E ele responde ''que filme?''"
Bieber conta uma versão ligeiramente diferente. "Eu sabia que estavam a fazer um filme sobre mim", diz. "Só não sabia quem é que o estava a fazer ou sobre o que era ao certo."
Embora seja seguido pelas câmaras para onde quer que vá, Bieber reconhece que demorou algum tempo a habituar-se ao processo do documentário.
"Foi realmente estranho ter alguém que não conhecia no meu espaço a tentar filmar-me", diz sobre Chu. "Mas acabámos por ficar à vontade um com o outro, e isso foi bom."
Embora Bieber diga que confia que Chu o retratará como ele espera ser visto - "Quero que as pessoas saibam que não sou apenas um produto, mas sim uma pessoa normal, que fui músico toda a vida" - Chu diz que Bieber teve uma palavra a dizer em relação ao produto final.
"Ele enviava-me mensagens do tipo ''não quero aquela imagem na banheira''", recorda Chu, antes de corrigir rapidamente a resposta: "Não há imagens dele na banheira. Não existem."
Bieber descreve várias sequências de "Never Say Never" como "bastante loucas" (as suas prestações com Miley Cyrus e com os Boyz II Men) ou "bastante cool" (uma breve aparição do pai, Jeremy, que é visto a enxugar as lágrimas durante o concerto do filho em Toronto).
O cantor parece menos interessado em falar sobre os amigos da sua cidade natal que conhece desde a infância e que são vistos no início do filme mas cuja presença regular na vida de Bieber permanece pouco clara.
"Eles dão-me apoio", diz Bieber. "Não acho que fiquem em casa a dizer mal da minha música."
Bieber entusiasma-se momentaneamente quando a conversa se volta para o aniversário iminente, a 1 de Março. Fazer 16 anos, diz, "foi importante porque pude tirar a carta de condução". Acrescenta: "Os 21 anos são importantes porque podemos, legalmente, sair e divertir-nos." (Mais: "30 é um ano grande. É quando toda a gente se sente velha.")
E fazer 17 anos? "É apenas mais um ano", afirma.
Bieber solta um pequeno bocejo e diz: "Muito bem. Acabámos, não?" A entrevista chega ao fim.
Ficando para trás, Chu diz que os meses que passou a filmar "Never Say Never" serviram para ficar a conhecer a agenda cansativa de Bieber, que actuou domingo passado na cerimónia dos Grammy antes de retomar a digressão mundial que durará até Maio.
"Pode mudar-nos como seres humanos e tornar-nos monstros, e ele não é um monstro", diz Chu. "Tem dias difíceis, quando está cansado, mas gosta mesmo dos seus fãs."
Braun, que descobriu Bieber no YouTube em 2008 e convenceu a mãe a levá--lo para Atlanta para começar uma carreira profissional na música, diz, em entrevista pelo telefone, que é o momento certo para Bieber fazer a transição para o cinema.
"As pessoas perguntam ''porque é que quer fazer já um filme?''", explica Braun. "E eu digo: ''porque Elvis fez muitos filmes.'' Está a ver?"
À pergunta se ele pensa que Bieber deu valor ao trabalho que deu fazer "Never Say Never", Chu responde imediatamente que sim. Depois faz uma pausa e reflecte sobre a questão.
"Ele mostra apreço de muitas maneiras diferentes", acrescenta Chu. "Ontem deu-me um soco no estômago e disse: ''És um animal.'' Nas palavras de Justin isso quer dizer: ''És extraordinário e eu agradeço-te.'' E eu aguento."
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