Se a juíza não teve, de alguma forma, intervenção no acto cometido pelo pai, que matou sábado passado, à queima roupa, o ex-companheiro, em Oliveira do Bairro, nada a impede, legalmente, de continuar o seu trabalho nos tribunais.
Por evidentes motivos emocionais, é muito duvidoso que Ana Joaquina Ferreira da Silva, mãe da menina no centro da disputa paternal na origem do crime, o faça proximamente e nas funções actuais.
“Seria o mesmo que alguém tivesse assassinado um seu familiar”, exemplificou fonte judicial. A filha do homicida confesso encontra-se colocada no juízo de média instância criminal de Ílhavo, da Comarca do Baixo Vouga, depois de ter passado pelos tribunais de Madeira e Oliveira do Bairro.
Se não sentir “estofo psicológico” para conciliar o embate dramático que sofreu na vida privada com as tarefas criminais, a juíza pode pedir transferência para outras áreas mais resguardadas.
Já uma qualquer situação de autoria, cumplicidade ou instigação, “que mexesse com a prática do ilícito”, seria completamente diferente, dando lugar a responsabilidade criminal e disciplinar, com possível suspensão de funções.
O acto tresloucado terá apanhado a magistrada de surpresa, bem como outros familiares, quando “vigiavam”, sábado de manhã, a alguma distância, a visita periódica de Cláudio Rio Mendes para estar duas horas com a filha de 4 anos, no parque da Mamarrosa. “Era assim que estava previsto pelo juiz no acordo de regulação paternal”, contou fonte familiar.
António Ferreira Silva, de 63 anos, terá agido “ao ver a neta chorar”, sentindo-se, também, “provocado” com filmagens de telemóvel que estavam a ser feitas do encontro por uma terceira pessoa, acompanhante do falecido.
O passado de relações muito tensas e até de agressões levou a mais uma troca azeda de palavras cara-a-cara que, desta vez, terminou com o disparou de cinco a seis balas de revólver, algumas das quais atingiram fatalmente Cláudio Rio Mendes, de 35 anos, advogado residente no Porto.
Consumado o crime, os familiares rodearam o alegado autor, engenheiro agrónomo e negociante de propriedades, que seria conduzido ao posto da GNR para se entregar, levando a arma da qual teria licença.
A criança, entretanto resguarda por familiares, “nunca se terá apercebido” do que sucedeu.
As investigações estão a decorrer sob alçada da Polícia Judiciária de Aveiro que vai conduzir hoje o suspeito a interrogatório judicial e aplicação de medidas de coação, sendo plausível que veja confirmada a prisão preventiva.
O corpo de Cláudio Rio de Mendes, que exercia advocacia num escritório em seu nome na cidade do Porto, aguarda autópsia no gabinete médico-legal de Aveiro para ser entregue à família.
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